À sombra dos ciprestes, numa urna
banhada pelo pranto, é talvez menos
duro o sono da morte? Quando eu não
mais contemplar a luz do sol e vê-la
cobrir a terra de animais e plantas,
e as horas futuras não mais passarem
diante de mim cheias de ilusões,
e não mais ouvir, caros irmãos, a triste
harmonia que os seus gestos desvelam,
e não mais sentir em meu coração
a poesia do amor que conforta a minha vida errante,
qual paz terei eu senão uma lousa
que distíngua meus ossos entre outros
que na terra e no mar semeia a morte?
É certo, meus queridos! Até a Esperança,
última Deusa, foge dos sepulcros:
e o Olvido envolve tudo na sua noite;
e alguma força operosa atormenta
a natureza sem cessar.
E o tempo transforma o homem,
suas tumbas, seus vultos e vestígios,
quer na terra ou no céu....
Se viver no subsolo, mesmo quando
a harmonia da vida lhe for muda,
poderá avivá-la, com nobres zelos,
na memória dos seus?
Celeste é esta correspondência de doces sentidos,
dom divino há nos humanos; e muitas
vezes vivemos com o amigo morto
e o morto com nós....
(Tirado de 'Os sepulcros' de Ugo Foscolo e livremente 'manipulado' pelo blogueiro)
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