Um Brasil ainda injusto e desigual
O Brasil é ainda um país profundamente injusto. Apesar de ser a sexta economia capitalista do mundo temos mais de 16 milhões de pessoas vivendo como miseráveis, com menos de meio dólar per capita por dia, e outros mais de 30 milhões com no máximo 1 dólar por dia. Mas talvez o maior contraste, revelador do tamanho das contradições, seja o dado revelado por O Globo, um jornal de perfil bem conservador, no dia 15 de outubro passado. Segundo o jornal, 4.640 milionários brasileiros (aqueles que têm ao menos US$ 30 milhões em conta bancária), têm riquezas que somam US$ 865 bilhões (em reais, R$ 1,764 trilhões). "É mais do que as reservas internacionais de todos os países da União Europeia juntos”, segundo o jornal. No Brasil, é ainda bem marginal o debate de alternativas ao desenvolvimento, de mudança de paradigma, de transformar processos. Nesses últimos governos petistas quer-se mais e mais desenvolvimento, o produtivista e consumista, só que com inclusão social. Tal crescimento, porém, para praticar a inclusão social, precisa ser de 5 a 7% ao ano, como disse a nossa presidente Dilma no Fórum Social Temático, em Porto Alegre, em janeiro de 2012. Devido à urgência que a mudança climática levanta, é preciso fixar o olhar na questão energética, na questão do agronegócio e pensar um novo paradigma civilizatório.
Energia para crescer e distribuir. Mas qual energia?
O Brasil caminha a passos grandes, de verdadeira potência emergente, para soluções energéticas que vão torná-lo muito mais poluente do que é atualmente. Hoje, o grande potencial de nova energia ‘limpa’ se concentra nos grandes rios da Amazônia. Dá para imaginar o que significa construir de 40 a 60 hidrelétricas de médio e grande porte num território como a Amazônia? Quanta terra inundada, mata destruída e impacto no clima e na biodiversidade? Quantos territórios e povos indígenas devastados? Ainda não se fez a opção pelas pequenas geradoras hidrelétricas que, em rede, são muito menos invasivas e muito mais produtivas e democratizadoras da economia. Não é exatamente isso que se busca com o desenvolvimento que temos atualmente. Mas o ‘calcanhar de Aquiles’ energético do Brasil emergente são as jazidas de petróleo do pré-sal. O pior de tudo é o senso comum que se forjou, que aponta o petróleo como a base para o grande salto do Brasil ao tal desenvolvimento. Isso, sobretudo, no meio da "classe batalhadora” – os mais de 30 milhões que saíram do limiar da pobreza com as políticas distributivas recentes. O debate no Brasil não é se vale a pena explorar o petróleo ou deixá-lo onde está; pelo contrário. O debate é sobre como distribuir as rendas do petróleo... Se observarmos, enfim, o papel do etanol para carros de passeio, - área em que o Brasil foi pioneiro, - descobriremos, na verdade, que o etanol e o biodiesel, como seu correlato, não passam de agronegócio, uma das mais importantes bases do desenvolvimento do Brasil emergente. Seu impacto ambiental, do ponto de vista de emissões, até pode ser positivo, mas seu impacto social é devastador.
Agronegócio: predador, contaminador e destruidor
O Brasil hoje depende muito do agronegócio como força de sua presença no mundo. Se acrescentarmos ao agronegócio o extrativismo mineral, temos somado, nas tais commodities, uma dependência crescente das exportações brasileiras da natureza (terra + minas + água + sol). Nos últimos anos, tal dependência de produtos primários vem aumentando. Somados, só seis produtos primários (minério de ferro, soja, petróleo, carnes, açúcar de cana e café) chegam a mais de 44% das exportações brasileiras de janeiro a agosto de 2012 (fonte: O Globo, 15/10/12). Temos hoje um agronegócio destruidor da biodiversidade, de florestas, contaminador, produtor de alimentos processados de qualidade duvidosa e dependente de modernos latifundiários, parte da tradicional elite brasileira, vivendo nas cidades, ou de grandes grupos empresariais nada identificados com o mundo rural. O agronegócio depende do controle da terra e da sua exploração livre de controle social e ambiental. Mais um aspecto relevante dessa questão deve ser mencionado: a reforma agrária. Nesses anos se deu preferência ao crédito de apoio ao invés de um efetivo programa de desmonte da bomba antissocial do latifúndio predador social e ambiental. Enfim, fica claro que o agronegócio é parte do poder estabelecido, difícil de mudar numa perspectiva de bases mais democráticas, includentes e sustentáveis.
O Brasil é ainda um país profundamente injusto. Apesar de ser a sexta economia capitalista do mundo temos mais de 16 milhões de pessoas vivendo como miseráveis, com menos de meio dólar per capita por dia, e outros mais de 30 milhões com no máximo 1 dólar por dia. Mas talvez o maior contraste, revelador do tamanho das contradições, seja o dado revelado por O Globo, um jornal de perfil bem conservador, no dia 15 de outubro passado. Segundo o jornal, 4.640 milionários brasileiros (aqueles que têm ao menos US$ 30 milhões em conta bancária), têm riquezas que somam US$ 865 bilhões (em reais, R$ 1,764 trilhões). "É mais do que as reservas internacionais de todos os países da União Europeia juntos”, segundo o jornal. No Brasil, é ainda bem marginal o debate de alternativas ao desenvolvimento, de mudança de paradigma, de transformar processos. Nesses últimos governos petistas quer-se mais e mais desenvolvimento, o produtivista e consumista, só que com inclusão social. Tal crescimento, porém, para praticar a inclusão social, precisa ser de 5 a 7% ao ano, como disse a nossa presidente Dilma no Fórum Social Temático, em Porto Alegre, em janeiro de 2012. Devido à urgência que a mudança climática levanta, é preciso fixar o olhar na questão energética, na questão do agronegócio e pensar um novo paradigma civilizatório.
Energia para crescer e distribuir. Mas qual energia?
O Brasil caminha a passos grandes, de verdadeira potência emergente, para soluções energéticas que vão torná-lo muito mais poluente do que é atualmente. Hoje, o grande potencial de nova energia ‘limpa’ se concentra nos grandes rios da Amazônia. Dá para imaginar o que significa construir de 40 a 60 hidrelétricas de médio e grande porte num território como a Amazônia? Quanta terra inundada, mata destruída e impacto no clima e na biodiversidade? Quantos territórios e povos indígenas devastados? Ainda não se fez a opção pelas pequenas geradoras hidrelétricas que, em rede, são muito menos invasivas e muito mais produtivas e democratizadoras da economia. Não é exatamente isso que se busca com o desenvolvimento que temos atualmente. Mas o ‘calcanhar de Aquiles’ energético do Brasil emergente são as jazidas de petróleo do pré-sal. O pior de tudo é o senso comum que se forjou, que aponta o petróleo como a base para o grande salto do Brasil ao tal desenvolvimento. Isso, sobretudo, no meio da "classe batalhadora” – os mais de 30 milhões que saíram do limiar da pobreza com as políticas distributivas recentes. O debate no Brasil não é se vale a pena explorar o petróleo ou deixá-lo onde está; pelo contrário. O debate é sobre como distribuir as rendas do petróleo... Se observarmos, enfim, o papel do etanol para carros de passeio, - área em que o Brasil foi pioneiro, - descobriremos, na verdade, que o etanol e o biodiesel, como seu correlato, não passam de agronegócio, uma das mais importantes bases do desenvolvimento do Brasil emergente. Seu impacto ambiental, do ponto de vista de emissões, até pode ser positivo, mas seu impacto social é devastador.
Agronegócio: predador, contaminador e destruidor
O Brasil hoje depende muito do agronegócio como força de sua presença no mundo. Se acrescentarmos ao agronegócio o extrativismo mineral, temos somado, nas tais commodities, uma dependência crescente das exportações brasileiras da natureza (terra + minas + água + sol). Nos últimos anos, tal dependência de produtos primários vem aumentando. Somados, só seis produtos primários (minério de ferro, soja, petróleo, carnes, açúcar de cana e café) chegam a mais de 44% das exportações brasileiras de janeiro a agosto de 2012 (fonte: O Globo, 15/10/12). Temos hoje um agronegócio destruidor da biodiversidade, de florestas, contaminador, produtor de alimentos processados de qualidade duvidosa e dependente de modernos latifundiários, parte da tradicional elite brasileira, vivendo nas cidades, ou de grandes grupos empresariais nada identificados com o mundo rural. O agronegócio depende do controle da terra e da sua exploração livre de controle social e ambiental. Mais um aspecto relevante dessa questão deve ser mencionado: a reforma agrária. Nesses anos se deu preferência ao crédito de apoio ao invés de um efetivo programa de desmonte da bomba antissocial do latifúndio predador social e ambiental. Enfim, fica claro que o agronegócio é parte do poder estabelecido, difícil de mudar numa perspectiva de bases mais democráticas, includentes e sustentáveis.
O que fazer?
Precisamos voltar às bases, fazer o que se fez na resistência e ao finalmente derrotar a ditadura. Trata-se de um trabalho de educação popular e cidadã, na visão libertária de Paulo Freire. Temos um enorme contingente da população "contaminada” pelo ideal do consumo, pois, afinal, é a primeira vez que o experimentam. O desafio maior para a democracia e a sustentabilidade, na perspectiva de uma transformação que importa, no Brasil, é conquistar corações e mentes para tal agenda. O imaginário mobilizador é o primeiro desafio. Precisamos ouvir, literalmente escutar, as ruas para entender e transformar as suas demandas. Nosso problema e maior desafio é de ordem cultural: falar para o que as pessoas sentem. Transformação só é possível com cidadania motivada e em ação.
(Fonte: reelaboração de um artigo de Cândido Grzybowski)
São menos de 70 mil os grandes proprietários de terras, num universo de quase 4 milhões de proprietários rurais, controlando quase 200 milhões de hectares, 25% do território nacional, o equivalente a mais de 2.800ha cada um, em média. Diante deles, quase dois milhões de famílias sem terra e outros dois milhões com pouca terra. Existe negócio mais excludente?
Nenhum comentário:
Postar um comentário