O possível aos nossos olhos torna-se quase impossível no concreto da história. E o ‘impossível’ humano acaba acontecendo quase como num ‘processo natural’ da história. Descobrimos que a nossa vida, e a história concreta das pessoas não são algo que podem ser analisadas como num laboratório científico. Há previsões sobre o futuro próximo da nossa vida e da sociedade cuja realização nos parece óbvia, no entanto enganamo-nos fragorosamente. Verificam-se, ao mesmo tempo, conjunturas tão complexas e obscuras que parecem não nos permitir sequer emitir tímidos palpites sobre seus desfechos. Entretanto, ao ousarmos destrinchá-las, o que nos parecia de difícil realização acaba acontecendo. Os acontecimentos e a sua análise escapam do nosso controle. Estão em permanente transformação, e não conseguimos acompanhá-los. Emitem sempre mais novos e indecifráveis sinais e sentidos que exigem uma nova educação. Parece ser esta a mensagem do evangelho de hoje: é preciso se educar ou, talvez, se re-educar a compreender permanentemente os novos sinais dos tempos e da vida. O filtro da nossa análise deve ser constantemente trocado e adaptado. Para poder saber quando ‘faz a hora’, e deixar de ficar a ‘esperar que as coisas aconteçam’ por si só!
Jesus no trecho evangélico de hoje parece assumir não tanto o papel de analista social e político, mas o de educador. Que caminha ao lado do discípulo/a e o ajuda a abrir a mente e o coração para os acontecimentos que o envolvem. Ele não se apresenta como um adivinho listando o que irá ou não acontecer num futuro próximo ou distante. Jesus simplesmente quer nos alertar sobre duas importantes atitudes que deveríamos adotar perante a história e a nossa vida real. A primeira: nem tudo o que nos parece óbvio e real o são de fato. Vemos violência, morte, desigualdades, sofrimento generalizado. Tocamos com mão no nosso cotidiano a angústia, a brutalidade, a indiferença, a nossa fragilidade, o ódio até das pessoas mais próximas de nós. Com certeza isso não é algo aparente ou artificial. Mas Jesus nos diz que apesar da força brutal desses males não devemos pensar que sempre foi assim, e sempre o será. Que nada podemos fazer para reduzir ou tentar eliminar os seus efeitos trágicos. Jesus, ao contrário, nos alerta que é justamente ‘após a grande aflição’ (v.24) da vida, que inicia um novo momento de esperança e salvação. O aparecimento próximo de novas oportunidades de mudar e transformar a aflição em alegria e esperança realizada, mesmo que a ‘aflição’ pareça aos nossos olhos tapados como algo eterno e invencível. A segunda atitude que Jesus nos convida a assumir é entender os sinais presentes na história que apontam que ‘a primavera está chegando’ (v.28) Descobrir no nosso cotidiano e na humanidade aqueles acontecimentos e relações humanas de verdadeira fraternidade, solidariedade, ousadia, e de transformação que comprovam que a ‘presença salvadora’ do Filho do homem, (v.26) e o poder de ‘suas palavras que nunca caducam’(v.31) já está vencendo, de fato, a grande ‘aflição’. Um claro recado a todas àqueles discípulos/as e igrejas que querem desistir diante dos desafios, conflitos e problemas da vida. Porque ainda não perceberam o poder que possuem para ‘fazer acontecer primavera’!
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