Mais um dia 19 de abril. Mais perguntas retóricas sem respostas: há algo a comemorar nesse dia? Com ou sem motivos aparentes ou subjacentes o dia 19 de abril impõe uma reflexão. E não só aos povos indígenas desse país, mas à sociedade em geral. Talvez jamais como esse ano ‘a comemoração’ coloque na pauta temas cruciais e que extrapolam a esfera meramente indígena, ou indigenista. Quem nos ofereceu um ‘aperitivo’ disso foram os índios Guajajara da aldeia Aremy, município de Grajaú, Maranhão. Hoje, de manhã, os visitamos. Como sempre, muito cordiais e delicados. Café e milho verde na mesa. Algumas lideranças acabavam de chegar de São Luis, após mais uma reunião com funcionários da Supervisão da Educação Escolar indígena, para esclarecer ‘questões suspensas e muitas dúvidas’. Algo que no nosso estado virou um ‘dramalhão’ sem final. Informaram-nos que muitos professores que há anos vinham ensinando com responsabilidade e já bem adaptados ao ‘estilo indígena’ não constavam na lista dos selecionados pela Secretaria de Educação. Que somente alguns haviam recebidos a confirmação de ‘contratados’, mas em número insuficiente para fazer frente às demandas locais. Sem falar nos critérios de seleção e distribuição dos professores, na adequação dos prédios escolares, na ausência de Planos Políticos Pedagógicos, de merenda e transporte escolar, de material escolar e carteiras, etc. Sem falar no fato que até o momento as aulas ainda não começaram por causa da indefinição da Secretaria de Educação Escolar. Sem falar, enfim, da falência evidente da educação escolar indígena no Maranhão!
Algo a comemorar? Paradoxalmente, sim, pelo menos em Aremy! As famílias, desde janeiro vêm construindo em sistema de mutirão o seu próprio prédio escolar para as 318 crianças matriculadas, sendo que Secretariada Educação do Estado até agora nada fez. Gratificante foi visitar as salas de aula ainda em fase de construção, mas já hospedando os pequenos alunos. Comovedor foi ver o pequeno ‘José’ de 4 anos mostrar com orgulho o desenho de sua autoria do açude próximo da escola com os peixes a pular. Está nessas imagens a síntese do atual drama pelo qual passam os povos indígenas, e de suas atuais vontades coletivas de não perder o passo com a história. Descaso, irresponsabilidade institucional, tentativas de inserir forçosamente os indígenas nas dinâmicas do desenvolvimento regional e/ou nacional de um lado, e do outro, a capacidade de se não se entregar e de se reerguer toda vez que tudo parece desandar. A eterna e mítica dinâmica da ‘fênix’ que renasce das cinzas do fogo purificador/destruidor. Um fogo que parece incendiar, hoje em dia, os sonhos e as veleidades de tantos povos ‘não indígenas’ que viviam na opulência, no desperdício, no consumismo irracional. No meio de tantas carências e ausências institucionais e não, o índice de felicidade dos povos indígenas continua ainda infinitamente bem superior ao...nosso! Podem crer! Viva o dia 19 de abril!
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