Onde estão os ‘filhos ressuscitados’ de tantas mães viúvas dos nossos dias que perderam os frutos de suas entranhas nas mais diversas circunstâncias? Como se identificar hoje com o gesto de Jesus que movido pela compaixão pelo desespero de uma mãe ‘levanta-ressuscita’ o seu único filho ‘caído-morto’? Há no evangelho hodierno elementos que nos permitem sentir como atual algo que poderia, à primeira vista, ser relegado a um passado esplendoroso, quase mítico, alheio ao nosso hoje, e não repetível. O encontro com a morte e suas vítimas é algo que nos acompanha permanentemente. Disso ninguém pode fugir. Mas diante disso podemos assumir diferentes posturas. De indiferença e banalização: todo dia morre gente e da forma mais variada. Faz parte do cotidiano, não há porque estranhar demais! A morte, principalmente quando não nos atinge, direta ou indiretamente, não desperta nem dor, nem compaixão e tampouco indignação. Há, entretanto, a postura de Jesus que nos é revelada no texto evangélico desse domingo que parece ser paradigmática no seu modo de sentir e agir. Jesus está para ‘entrar na cidade’ para evangelizar, anunciar vida nova e esperança no reino de Deus, mas dela ‘está para sair’ um cortejo fúnebre. Uma espécie de romaria do desespero e da dor. Jesus se defronta não somente com a morte, genericamente falando, e sim com o trágico falecimento de um jovem ‘órfão’ de pai. Um ser socialmente ‘desprotegido’ que deixa mais ainda desamparada sua ‘mãe viúva’, já provada anteriormente pela dor da perda. A morte irrompe na vida desses dois seres, - social e religiosamente já fragilizados, - como uma ‘des-graça’ a mais. Talvez interpretada como o ápice da manifestação do abandono por parte de Deus. Um choque também para Jesus que prega a ‘paternidade e a proximidade’ de Deus para com os pobres e para com ‘os que choram’.
Jesus, no meio de uma multidão que canta e grita a sua dor, movido pela compaixão ‘enxerga e escuta’ o choro desesperado da mãe viúva. Compreende não somente o drama daquela morte incompreensível, mas também o que ela significa para aqueles que eram considerados pelos profetas ‘os prediletos’ de Deus (os órfãos e as viúvas). À tragédia humana, Jesus via acrescentar-se a tragédia religiosa segundo a qual Deus parecia abandonar os seus filhos mais fragilizados e supostamente amados, em lugar de protegê-los e ampará-los. Jesus não teme se aproximar e se contaminar com tudo o que está relacionado com a morte e as suas significações e toca o caixão, santuário de solidão, abandono, e de negação da vida. É justamente nessa hora que podemos descobrir que o desafio para a fé de Jesus no Pai não era tanto o de devolver biologicamente o ‘filho’ á mãe viúva, quanto o de conseguir devolver esperança e sentido à vida de uma mãe que chorava pelo desespero. Por achar que a sua vida não fazia mais sentido. Jesus percebe que, afinal, é ela que tem que ser ‘levantada’, ressuscitada, para poder voltar a ter esperança e fé num Deus que nunca a abandonou. É ela que é chamada, como o são inúmeras mães de hoje, a dar um novo sentido á sua vida a partir de suas experiências trágicas de perda, de abandono, de separação. É a ela e a cada um de nós que, afinal, Jesus grita ‘levanta-te’, quando perdemos não somente ‘filhos, pais e mães’, mas, principalmente, a vontade de viver e de lutar. Um prelúdio esse de quanto irá ocorrer com o próprio Jesus, sua própria mãe e discípulos.
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