Difícil dizer, quando o assunto é criança e adolescente, o que dói mais. Se as negações de direito a que são submetidos, se a invisibilidade dos residentes na periferia da cidade, ou como se tornam visíveis apenas ao serem relacionados com a violência, seja quando morrem, seja quando matam. Mas há um lado pior. É quando se toma o caminho mais fácil de atrelar todas estas questões apenas ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), esquecendo os problemas sociais que os permeiam. Em uma matéria como esta, não dá para listar, por exemplo, o nome dos meninos mortos nos últimos cinco anos, filiação e o resultado das investigações. Não se consegue também dar nome e sobrenome àqueles que, nas ruas, furtam, roubam, usam entorpecentes ou atentam contra a vida do outro. Pode-se, entretanto, dizer onde estão, como se sentem sozinhos ou absolutos frente à desagregação familiar, como está fácil o caminho de acesso às drogas. Em meados da década de 1990, o uso do crack se tornou possível para pessoas de baixo poder aquisitivo. Até então, crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social fumavam "um baseado" e cheiravam cola de sapateiro.
O crack mudou tudo
Os delitos assumiram maior gravidade e os jovens passaram a ser usados como "laranjas" pelos adultos para assumir crimes que não cometeram. No momento em que o indivíduo começa o vício, inicia a busca por dinheiro para adquirir droga. Se não tiver nada de valor em casa, vai para rua roubar algo ou vender droga. Gera-se um círculo vicioso: o traficante ou alguém da comunidade aluga uma arma para ele que, hoje, dependendo do tipo, a diária fica em torno de R$ 150 a R$ 200. O menino já sai da "boca de fumo" com duas obrigações: conseguir dinheiro para pagar o aluguel da arma e para comprar a droga. Se for pego e encaminhado para um Centro de Educação, ao cumprir o período, sai tenso, ciente das contas a pagar. Então, ou abre outra conta para alugar nova arma ou volta a vender droga. Se perder a segunda arma, possivelmente vai ser assassinado, por não ter como pagar a dívida.
Crise de invisibilidade: 'não tenho nada a perder, tamo aí pra' se f....mesmo!
Uma crise de invisibilidade aliada ao poder econômico e sedutor imposto pelo mundo do crime é um dos motores propulsores da crescente violência envolvendo crianças e adolescentes. O "menino bomba", é uma das dificuldades encontradas no enfrentamento a esse problema. "Quem é esse menino hoje? Filho de mãe adolescente, não conhece o pai, não tem criação com a mãe porque ela é outra adolescente. Vai para a rua, onde conhece apenas esses valores. Eis o relato de um diálogo travado com um dos desses adolescentes, que assusta, mas é cada vez mais comum nas comunidades. Você chega para ele e diz: ´Cara não vai para a vida do crime armado, tu vai morrer´. Ele responde:´E aí, morrer, qual o problema? Estamos aí pra se f. mesmo´. Ele não foi humanizado, socializado em uma base civilizatória, para entender o senso de vida. A saída, para muitos é "encostar" nos adolescentes. Ajudá-los a compreender que tem que fazer a vida valer a pena, fazer convivências, para ele ter acesso aos bens da humanidade, afeto, amor, amizade, proteção e outros bens... (Fonte: Tirado do Blog de Marco Passerini e adaptado pelo blogueiro)
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