O Estado sírio, nas suas fronteiras formais, não existe mais unitariamente. No território estão presentes interesses de potências planetárias e regionais. Os cinco integrantes com poder de veto no Conselho de Segurança da ONU têm envolvimento. A França e a Grã-Bretanha, com a veleidade de reconquistarem papel ao tempo do domínio colonial, fornecem armas aos insurgentes e, por tabela, aos jihadistas que tentam derrubar Assad. Do lado oposto, e em apoio ao ditador, estão a China e a Rússia, esta que, nos portos sírios, mantém bases navais. Os atores regionais contra Assad são a ainda laica Turquia e os sunitas Catar e Arábia Saudita. A sustentar Assad estão os xiitas do Irã, com os grupos Pasdaran e o Basij a adestrar alauítas e xiitas sírios, como, por exemplo, as diversas milícias. Há ainda o braço armado do partido libanês Hezbollah. Enquanto isso, o outro ator, Israel, destaca o risco de o arsenal de armas químicas passar para as mãos de terroristas islâmicos. Num cenário com copioso fornecimento de armas, mercenários e rios de dinheiro para manter os combatentes, desenvolve-se uma guerra de propaganda. Assim, informações e desinformações são difundidas pelo planeta.
Todos os envolvidos sabem que a Síria, dado o potencial nuclear de Israel, começou, nos anos 1970, a armazenar armas químicas, chamadas pelos 007 da inteligência ocidental como “bombas atômicas dos pobres". Segundo a edição de março da LiMes, respeitada revista italiana de geopolítica, a Síria tem no momento 650 toneladas de gás sarin, 200 toneladas de gás iprites (mostarda) e uma quantidade pouco menor do gás asfixiante e letal VX. As instalações principais estariam em Masyaf, Furqlus e Han Abu al-Samat. A revolta contra Assad teve início em 15 de março de 2011 e, em razão dos protestos de jovens contra uma lei em vigor desde 1963, que colocava o país em permanente estado de emergência. Ou seja, permanente proibição de reuniões e protestos contra o regime, com a ameaça de prisão aos opositores. Não demorou até a revolta virar guerra civil e se espalharem boatos sobre o uso de armas químicas pelas forças de sustentação de Assad. A partir da tragédia de agosto último, com 1.429 mortos, 426 crianças entre eles começou-se a falar, com Susan Rice, assessora de Barack Obama, à frente, em aplicação do princípio humanitário da “responsabilidade de proteger”. Tudo isso diante de uma Síria que, em 1993, não subscreveu a Convenção das Nações Unidas sobre armas químicas. Seu cumprimento ficou sem fiscalização e, atualmente, 20 países mantêm arsenais de armas químicas e bacteriológicas. O uso de armas químicas em conflitos repete-se e se acomoda aos sem condições de partirem para uma cyberwar. Espera-se, na reunião do G-20, um acordo entre Obama e Vladimir Putin. Nos meios diplomáticos europeus fala-se em substituição de Assad por um alauíta conciliador. E poderá ser assegurado ao ditador um exílio onde não será molestado com pedido de extradição pelo Tribunal Penal Internacional. (Fonte: Walter Maierovitch)
Nenhum comentário:
Postar um comentário