As capitais do país reúnem 370 mil usuários regulares de crack ou similares (pasta base, merla e oxi). O contingente representa 35,7% do total de usuários regulares de drogas ilícitas (excetuando-se a maconha), estimado em 1 milhão nas capitais. É o que aponta a maior pesquisa já feita no país sobre o tema, divulgada nesta quinta-feira (19). Foram dois estudos realizados pela Fiocruz, sob encomenda da Senad (Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas): um que traça estimativas sobre o número de usuários nas capitais do país, e o segundo que traça um perfil do dependente de crack, desta vez em âmbito nacional. A divulgação dos resultados era esperada há cerca de um ano e meio. No estudo que traça estimativas, o recorte regional impressiona por fugir do senso comum. A pesquisa estima que 40% dos usuários regulares de crack e similares que vivem em capitais estão concentrados no Nordeste --o que significa 148 mil pessoas. A segunda região com maior número absoluto de usuários é a Sudeste, com 113 mil ou 30,5%. Em seguida, vêm o Centro-Oeste (51 mil ou 13,8%), o Sul (37 mil ou 10%) e o Norte (33 mil ou 8,9%). O estudo mediu outra condição de vulnerabilidade: o uso do crack por menores de 18 anos. Dos 370 mil usuários regulares, 50 mil são crianças e adolescentes. E sua proporção, entre os usuários estimados, também é maior na região Nordeste.Enquanto a média nas capitais aponta que 13,5% dos usuários regulares são crianças e adolescentes, o percentual sobe para 18,9% nas capitais do Nordeste.
De acordo com o estudo, 78,7% dos usuários de crack são homens, 80% são "não-brancos", 41,6% informaram ter sido detidos no ano anterior. Em termos de educação, 55% completaram a 8ª série do ensino fundamental e somente 3% chegaram ao ensino superior.O perfil do uso indica que 55% utiliza a droga diariamente. O consumo da droga se estende há 7,6 anos na média nas capitais e há 4,9 anos nas demais cidades. Varia consideravelmente a quantidade de pedras usada por dia: a média é de 16 pedras, mas alcança 21 entre as mulheres.Cerca de 65% dos usuários regulares têm algum trabalho autônomo/provisório como fonte de renda, 12,8% pedem esmolas, 9% ganham dinheiro de atividades ilícitas (como furtos) e 7,5% são profissionais do sexo ou trocam sexo por dinheiro.
O perfil sobre os usuários regulares faz um retrato cruel da situação das mulheres dependentes do crack. Cerca de 10% informaram que estavam grávidas no momento da entrevista, e 46,6% disseram ter engravidado pelo menos uma vez desde que começaram o uso da droga.Das entrevistadas, 44,5% relataram já ter sofrido algum tipo de violência sexual. E pouco menos de 30% informaram que trocam dinheiro ou drogas por sexo.O pouco acesso a serviços e a prevenção de doenças transmissíveis também foi verificado pelo estudo da Fiocruz. Enquanto 78,9% dos usuários relataram a vontade de buscar tratamento, menos de 7% procuraram um CAPS AD (estrutura base para receber os usuários) e menos de 5% buscaram uma comunidade terapêutica. Outro dado preocupante é sobre o uso de preservativos. Quase 40% dos entrevistados não utilizaram preservativo nas relações sexuais vaginais que tiveram nos 30 dias anteriores à entrevista. E o conjunto dos usuários entrevistados apresentou taxas mais elevadas de doenças transmissíveis por sexo desprotegido ou por instrumentos cortantes. Enquanto a taxa geral de HIV na população brasileira é de 0,6%, entre os usuários foi medida em 5%. A hepatite C também aparece como mais frequente: 2,6% enquanto a taxa nacional é de 1,38%.(Fonte: Folha de São Paulo)
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