Quantas vezes fizemos a experiência de sermos tentados! Tentados em desistir de lutar pelos nossos legítimos projetos e sonhos. Achando que jamais iríamos realizá-los. Tentados em desistir de acreditar e viver valores que sentíamos como algemas na alma. E que pareciam nos impedir de ‘sermos nós mesmos’! Tentados em desistir daquele ‘esforço hercúleo' de manter coerência e fidelidade a opções evangélicas de vida. E que freqüentemente as víamos como castradoras. Tentados em acariciar as nossas ambições e buscar sempre mais poder sobre os outros para dominá-los e escravizá-los. Pois bem, era o próprio Espírito que nos colocava em situação de sentirmos essas tentações no nosso coração! Sim, o mesmo Espírito que nos havia mostrado precedentemente a beleza de viver valores profundamente humanos e divinos! Parece existir um caráter profundamente pedagógico no modo de agir do Espírito. Ele nos chama para uma grande e bonita missão e, a seguir, nos testa dura e permanentemente. Para ver se possuímos condições e capacidades de fazermos frente ao que ela comporta. É o mesmo que nos conduz - como conduziu Jesus, - aos desertos da vida. Para sermos permanentemente tentados e testados pelo ‘diabólico dispersor.
O paradoxal é que o mesmo espírito que confirma Jesus na sua condição de ‘filho amado do Pai’ e o chama a anunciar a proximidade da realeza de Deus o leva a uma direção que parece negar o que acaba de fazer! Mas ser tentados é preciso! A tentação parece ser a condição sem a qual não podemos ser admitidos a fazer parte da grande missão de anunciar e testemunhar a iminente realeza de Deus. Todavia, o fato de sermos tentados não significa sucumbir e aderir à ‘outra perspectiva’, ou seja, a desistência da missão ou pior, aderir ao ‘anti-reino’ a tudo o que se opõe à Boa Nova. Por isso Jesus é sistematicamente tentado - 40 dias que significam ‘sempre, - como o foi Adão e o povo de Israel no deserto. A resposta de Jesus à tentação foi, no entanto, rejeitar com firmeza a alternativa diabólica que os seus progenitores, ao contrário, haviam acolhido. É no deserto árido e tentador, longe do ‘jardim ideal’ e da ‘terra onde corre leite e mel’ que Jesus experimenta a plenitude da comunhão e da paz com Deus e com o universo. Isto para significar que a tentação faz parte da missão. Que não é algo escandaloso. O novo homem-Jesus-Adão entrando e saindo das tentações que não o abandonam se fortalece sempre mais. Testado e aprovado, sente-se mais capacitado e motivado para enfrentar novos ‘atentados’ à sua missão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário