O reconhecimento do mérito pelo racismo praticado foi para os deputados ruralistas gaúchos Luis Carlos Heinze (PP), o ganhador principal, e Alceu Moreira (PMDB), que o acompanha na vergonha. Os dois proferiram discursos de intolerância aos povos indígenas e quilombolas, e homossexuais, todos que formam o "tudo o que não presta", na visão de Heinze. Moreira incentivou o conflito armado, através de milícias, para a garantia das grandes propriedades rurais. Seu modelo de "resistência é o que acontece no Pará, estado campeão de assassinatos no campo. As declarações foram proferidas em uma audiência pública no Rio Grande do Sul, e também durante o "leilão da resistência", realizado para financiar o pagamento de milícias armadas para agir nos conflitos por terra no Mato Grosso do Sul. Os dois deputados gaúchos falam para seus apoiadores, o seu público, é claro. Quem são seus apoiadores? Fazendeiros, grandes ou pequenos, que estão em conflitos com o "tudo o que não presta" do deputado. Também estão junto do discurso racista os lobbies a quem eles defendem, representam, e que pagam suas campanhas: multinacionais do agronegócio e commodities, e a indústria de armas. Ter terras, eliminar "o que não presta" com o uso de armas de fogo, é um discurso que talvez não tenha sido proferido por acaso, no "calor de uma audiência pública", digamos assim. Será essa ideologia, presente nos discursos extremistas de uma certa elite ruralista, e que prega a eliminação física dos adversários políticos ao mesmo tempo que a superioridade de uma certa classe étnica (branca, ocidental, heteronormativa e cisgênera), significados de um fascismo que permanece, ou então que se reconfigura, no Brasil? O extermínio dos povos indígenas não é uma proposta nova a aparecer em discursos extremistas. O cientista Rodolpho von Ihering, do Museu Paulista, declarou no início do século passado, há pouco mais de cem anos: não se pode esperar trabalho sério e continuado dos índios civilizados e como os Caingangs selvagens são um empecilho para a colonização das regiões do sertão que habitam, parece que não ha outro meio, de que se possa lançar mão, senão o seu extermínio. Os povos Guarani e Kaiowá, no Mato Grosso do Sul não tem dúvidas de que o extermínio é não só uma possibilidade política, como uma realidade. Na visão dos próprios Guarani, eles estão passando por um de genocídio: ou seja, os atos de eliminação física, total ou parcial, de um grupo étnico. Logo após o assassinato da liderança e rezador Nísio Gomes em 2011, eu tive lá e perguntei a algumas das principais lideranças. O vídeo pode ser visto aqui. Depois dele, pelo menos mais sete outras lideranças políticas foram eliminadas, além de outras dezenas de mortes. (Fonte: Carta Capital)
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