A Ferrovia Carajás, considerada a mais eficiente do Brasil, três décadas depois de sua construção, o corredor de Carajás, por onde passa um terço do minério de ferro exportado pelo Brasil, continua sendo provedor de mão de obra barata para regiões mais prósperas e grandes projetos amazônicos, segundo a IPS constatou ao percorrer a área. O Maranhão, por onde passam dois terços dos 892 quilômetros da Ferrovia Carajás, continua enviando trabalhadores para muitas regiões do país, em geral para tarefas temporárias ou precárias, como mineração de ouro artesanal na Amazônia ou corte de cana-de-açúcar. Também é a principal origem das vítimas da escravidão moderna, especialmente na pecuária e no carvão vegetal. Seu Índice de Desenvolvimento Humano está em penúltimo lugar entre os 27 Estados brasileiros, e sua renda por pessoa está em último. A Ferrovia Carajás e sua empresa concessionária, a transnacional brasileira da mineração Vale, terão uma nova oportunidade para ajudar o desenvolvimento local. Está em andamento a duplicação de seu traçado, até agora de via única, e da extração na Serra de Carajás, no Pará. Um novo projeto de lei sobre mineração, que será aprovado este ano, forçará a que uma pequena parte dos lucros da Vale beneficie os municípios que sofrem os impactos diretos de sua atividade. A empresa fez um diagnóstico de interesses econômicos locais, com o desenho de “projetos para cada microrregião ao longo da ferrovia”, informou o diretor de Operações Logísticas da Vale, Zenaldo Oliveira. Em uma comunidade pode-se adequar uma fábrica de farinha de mandioca, e em outra, fruticultura e sucos, citou como exemplo. A Vale, fundada pelo Estado em 1942 e privatizada em 1997, só apoia iniciativas em educação, saúde e geração de renda, detalhou Oliveira, pois é onde estão as maiores carências que travam o desenvolvimento local. Apoiar os empreendedores, melhorar escolas e capacitar milhares de operários são algumas das ações sociais e ambientais da Vale e de sua Fundação.
As mentiras do desenvolvimento local -
No entanto, “são projetos pontuais, que não incentivam o desenvolvimento efetivo do território”, ressaltou George Pereira, secretário-executivo da Associação Comunitária Itaqui-Bacanga, cuja fundação e sede, também “produtos de investimentos sociais da Vale”, servem aos 58 bairros em torno do porto Ponta da Madeira. Além disso, estão longe de compensar os danos à população do corredor de Carajás, segundo a Justiça nos Trilhos, campanha de movimentos sociais e religiosos que defende direitos das populações afetadas pela ferrovia. Em 2012, suas denúncias e as da Articulação Internacional dos Afetados pela Vale conseguiram atribuir à empresa o prêmio Olho Público, criado por organizações internacionais como Greenpeace para apontar as transnacionais que mais violam os direitos humanos e as normas ambientais, segundo milhares de votantes. Acidentes fatais, contaminação com pó dos minerais e rachaduras nas casas próximas à via são alguns desses impactos. A ferrovia paga seus próprios pecados e os de sua parceira perfeita, a mineração de ferro. Também faz parte do Programa Grande Carajás, um conjunto de empresas de mineração, aço, alumínio, celulose, pecuária e hidroeletricidade com que o governo pretendeu desenvolver a Amazônia oriental nos anos 1980. Esse programa deixou desmatamento acelerado, contaminação letal onde se concentrou a indústria do ferro gusa, trabalho escravo e outras violências, enquanto o desenvolvimento humano pouco avançou, segundo as estatísticas. (Fonte: Mário Osava)
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