O maranhense padre Raimundo Rocha, missionário comboniano que trabalha no Sudão do Sul, envia mais notícias sobre a situação da guerra civil que atinge o país. ‘Já são dois meses e meio desde que os conflitos começaram em Juba. Faz um mês desde que tivemos que deixar a nossa missão em Leer e fugir para o mato e pântanos com o povo. Agora me encontro bem com meus colegas em Juba, mas o povo continua no mato sem comida, muitos doentes e com medo.Não é surpresa a falta de notícias nos meios de comunicação. Aqui em Juba a situação está tranquila. No começo apareceram algumas reportagens, muito mais sobre Juba, por causa da presença dos diplomatas e jornalistas na cidade. A guerra mudou-se para os três estados de Unity, Jongley e Upper Nile e se concentra lá. No momento lá não tem comunicação, por isso não se sabe bem o que está acontecendo. Essa é a região rica em petróleo e não é por acidente que a guerra continua lá. Também é a terra do povo Nuer e do vice-presidente deposto. Não se pode esquecer que é uma guerra civil política, uma briga por poder movida por interesses e gananciosos indivíduos ou grupos, mas com um contorno étnico muito acentuado. São milhares de mortos, difícil saber ao certo, a maioria civis inocentes e quase um milhão de desabrigados. Os campos da ONU estão superlotados de gente da comunidade e etnia Nuer. Há muito mais gente escondida no mato. Isso posso dizer muito bem porque ficamos na mesma situação por dezoito dias e sei bem o que o povo está vivendo nesse momento. As destruições, saques e assassínios de forma cruel são verdadeiros horrores. Apesar disso e da pressão da comunidade internacional e muitas orações, os dois líderes, governo e oposição, não escutam os clamores do povo. As negociações de paz não avançam. Há uma necessidade urgente de conversão de mente e coração dos líderes desta jovem nação. É difícil enxergar o fim de tudo isso. A situação é pior em Malakal. Todo mundo teve que fugir e as igrejas não foram respeitadas. O ‘White Army’ (exército branco) formado por jovens Nuers é impiedoso. São jovens recrutados para a guerra e profundamente manipulados. Não temem matar ou morrer. Vê-se que precisa de muita oração para mudar essa realidade. Sempre que puder lhes mandarei mais notícias. Continuem rezando por nós e nossos povos'.
Pe. Raimundo Rocha, pároco de Leer, em Juba
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