segunda-feira, 2 de julho de 2018

A praga evangélica, por Wilton Cardoso Moreira

Em última análise, todo ser humano, sob o capitalismo atual é evangélico-protestante nas profundezas de seu espírito, mesmo que se declare católico, pagão ou ateu. Se a pessoa se converte ao cristianismo evangélico, como tantos estão a fazer no Brasil atual, ela está apenas explicitando o Deus que já habita as entranhas de sua alma e se encontrava em estado de latência. E este Deus só é o Cristo em aparência, pois o Cristo já morreu  há muito tempo. A ética do trabalho do homem-mercadoria, o ganhar e gastar do homem reto (a pessoa de bem), a disciplina para o estudo e a poupança (o próprio estudo é uma acumulação de capital humano para o futuro), a racionalidade instrumental, a subjetividade abstrata e puramente formal desdobrada no direito e na democracia, todos estes valores da cidadania se coadunam com uma vida humana entregue ao capital, dedicada ao único e verdadeiro Deus protestante: Mamon......

...........No capitalismo atual, a grande maioria de humanos miseráveis que habita o planeta tem um único e obsessivo objetivo: tornar-se homem classe média, ou seja, realizar-se como evangélico. Em verdade, já o são em espírito, pois procuram se educar a si e aos seus para a cidadania e o mercado e se aferram ao rígido ascetismo protestante da disciplina para o trabalho e o mercado.  Falta a esta maioria miserável, apenas a bênção de Mamom, tocando suas almas com o milagre da prosperidade e tornando-as ricas em valor. Falta-lhes a felicidade financeira da alma... E continuará faltando, pois os abençoados que poderão “fazer o pé de meia” serão uma minoria cada vez menor no capitalismo atual, cujo colapso tende a acentuar a concentração de capital. Toda pessoa da Terra já é, em espírito, homem classe média, tomada pelo desejo ardente (evangélico) de se tornar um capital individual produtivo para o capitalismo, mesmo que sua condição material seja a miséria. O desejo evangélico de aderir docilmente ao status quo capitalista é o desejo do escravo interior em submeter-se por vontade própria ao capital. O homem ideal do capitalismo total da atualidade é o homem classe média, idêntico ao cristão protestante/evangélico. A praga evangélica é bem mais geral e profunda do que se pensa, no Brasil e fora dele.



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