sexta-feira, 10 de agosto de 2018

ABORTO NÃO PODE SER TABU

Num momento dramático em que assistimos com espanto o aumento planetário de homicídios contra ‘mulheres’, setores da sociedade se veem mergulhados no debate ‘Aborto sim, aborto, não’. ‘Aborto legal, aborto ilegal’. Parece um paradoxo: de um lado mulheres geradoras de vidas que são mortas por supostos maridos, companheiros, ou homens e, do outro lado, mulheres (e não só elas) defendendo e praticando a supressão física de 'outras vidas' que guardam dentro de si. Haverá quem diga quem são situações completamente diferentes, e são, mas o resultado chega ao mesmo denominador comum: uma espantosa contradição que nos deve fazer refletir. Parece-me haver dois extremos nesse debate. Numa ponta afirma-se que o aborto é sempre e em qualquer circunstância um crime por razões extremamente variadas, não últimas as religiosas. Na outra ponta, o aborto é visto como uma espécie de panaceia diante de uma gravidez indesejada, forçada e não planejada, e frequentemente em nome de uma suposta soberania e independência da mulher sobre o seu próprio útero, bem ao estilo anos 70 quando na Europa muitas feministas (e não só elas) gritavam ‘o útero é meu e o gerencio eu’! Como não pretendo fazer um tratado e nem quero nesse espaço repetir o que todo mundo já sabe, ou seja, que há, por exemplo, milhares de mulheres que morrem ao praticar abortos clandestinos, - por não serem legalizados, - ou mulheres vítimas de estupros, e outros mais, me limito a levantar uma simples indagação, a saber....
Por que em lugar de pensar logo em abortar por inúmeras razões que não vem ao caso citar, não pensemos numa outra possibilidade, ou num outro cenário? Uma mulher, mãe, pode decidir autocraticamente sobre uma vida que está dentro dela e que não tem condições de ser consultada se quer ou não nascer? Quem lhe dá esse poder decisório absoluto? Ela própria? Pensemos por instante na hipótese de que essa pequena vida, cujo coração começa a bater depois de algumas semanas, não lhe pertence exclusivamente! Sim, isso mesmo. Aquela vida que, embora embrionária não deixa de ser tal, já não pertence exclusivamente à mulher, pois se tornou patrimônio humano, biológico, e social. Nem digo da sua família biológica e nem tampouco na do fecundador que, covardemente não assume. Reconhecemos, por outro lado, que uma grávida tem todo o direito e, em muitos casos, a sensatez de afirmar e provar que, por exemplo, não tem condições psicológicas, financeiras, humanas de assumir (educar, acompanhar, alimentar, etc.) sozinha esse bebê. Contudo, essa micro-vida, por não ser uma mera extensão, ou um ocasional apêndice do seu corpo privativo, mas um ser vivo da espécie dos ‘sapiens’ e extensão da grande família humana, caberá à sociedade como um todo se encarregar de cuidar, apoiar, proteger, educar, oferecer condições dignas para que o bebê nasça e se desenvolva plenamente. Utopia? Idealismo barato de piegas? Arcaico e conservador? De direita....sendo que hoje o esquerdista puro faz a opção contrária? Que seja! Para mim, não se trata de convicções religiosas de carolas desencarnados, mas de convicções humanistas e antropológicas. Evidente que haveremos de aprimorar políticas públicas e proporcionar educação sexual de forma ampla, intensa e continuada, (inclusive adotando as universais medidas preventivas como anticoncepcionais e outros métodos), mas justificar a legalização do aborto tendo como alicerce uma mera vontade própria, individualista e privatista, - mesmo que subjetivamente dramática e dilacerante, - não me parece o melhor caminho. Deixemos nascer a nova vida, e se a mãe subjetiva e objetivamente não pode acompanhá-la e educá-la, nós como sociedade-humanidade teremos que tomar de conta, mesmo que isso signifique rever muitas opções, corrigir e superar egoísmos, adaptar estruturas e mexer no orçamento da nação....Matar, nunca! Tenho dito! 

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