O secretário de Defesa dos Estados Unidos, James Mattis, escolheu o Brasil como o destino inicial de seu primeiro giro pela América do Sul. Entre os temas de sua agenda se encontra a participação de seu país na base aeroespacial de Alcântara, de grande valor estratégico. Conheça as intenções ocultas do Pentágono por trás desta suposta cooperação. "Escolhemos o Brasil, não porque devido a um feliz acidente geográfico se encontra na linha do Equador mas porque queremos trabalhar com os brasileiros, nosso vizinho hemisférico com o qual compartilhamos valores políticos, além de sua impressionante orientação tecnológica", disse, de acordo com a agência AP, o titular do Pentágono em entrevista coletiva depois de sua reunião com seu par brasileiro.
"O objetivo principal norte-americano é ter uma base militar no território brasileiro na qual exerçam sua soberania, fora do alcance das leis e da vigilância das autoridades brasileiras, inclusive militares, e onde possam desenvolver todo tipo de atividade militar", afirma Samuel Piunheiro Guimarães Neto, também secretário geral das Relações Exteriores de 2003 a 2009. O diplomata sublinha que sob o controle do Pentágono existem cerca de "700 bases militares terrestres", em muitas das quais há "armas nucleares e sistemas de espionagem". Além disso, o deslocamento de navios e submarinos pelo planeta aumenta a quantidade de locais a serviço de Washington.
Do ponto de vista dos lançamentos espaciais, os EUA têm "bases de lançamento de foguetes em seu território nacional", com equipamentos "sofisticados". Por isso, segundo Samuel Pinheiro Guimarães, não necessita das instalações "em Alcântara para o lançamento de seus foguetes". "A localização de Alcântara, no Nordeste brasileiro, em frente à África Ocidental, é ideal para os Estados Unidos desde o ângulo de suas operações político-militares na América do Sul e na África, assim como de sua estratégia mundial de confrontação com a Rússia e a China", aponta o diplomata.
Um dos objetivos de um controle estadunidense de Alcântara seria também "impedir que o Brasil tenha uma base competitiva de lançamento de foguetes" e operar à margem do escrutínio das autoridades locais. Para o diplomata, a utilização de Alcântara por parte dos EUA "configura o caso mais flagrante de cessão de soberania da história do Brasil". Segundo o portal AmerSur, dentro da política de desenvolvimento aeroespacial do Brasil, o governo de Lula (2003-2011) freou os acordos de cooperação em Alcântara com os EUA e assinou acordos em 2003 com a Ucrânia que incluíam transferência de tecnologia. Contudo, Kiev os rescindiu quando se consolidou ali em 2014 "um governo pró-EUA".
Outro assunto é a proximidade relativa do Maranhão com a Venezuela. Uma presença militar sob o controle do Pentágono poderia ser, segundo José Reinaldo Carvalho, um elemento a mais para "impedir que as forças democráticas e populares possam exercer seu poder em diferentes países latinoamericanos". Caracas "ousou contrariar os interesses estadunidenses" e foi ameaçada com "intervenções" militares. Mas, como apontou José Reinaldo Carvalho, a "cobiça" dos EUA para com o Brasil não se esgota em Alcântara. O dirigente do Cebrapaz mencionou a questão da Amazônia, cenário em 2017 de operações militares conjuntas entre Brasil, Peru, Colômbia e EUA. Foram as primeiras deste tipo na história, na região amazônica, "rica em recursos, biodiversidade e água", cujo controle é "parte da ofensiva" de Washington. "Penso que as forças armadas brasileiras, o exército brasileiro e os patriotas brasileiros não deveriam permitir que nosso país fique tão vulnerável a esta ofensiva estadunidense", concluiu José Reinaldo Carvalho. (Brasil 247)
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