No exercício recorrente da aventura da sua própria ignorância, Bolsonaro se especializou em causar um mal-estar cotidiano a amplos setores da sociedade brasileira. Somente os seus seguidores se comprazem com o grotesco ensandecimento dos ataques permanentes ao razoável, ao bom senso, à razão, ao comedimento, ao respeito, à responsabilidade é à própria dignidade do cargo presidencial. Movidos por ressentimentos e recalques, ele e seus milicianos ideológicos investem contra a cultura, contra a diversidade, contra os direitos, contra a intelectualidade, contra o conhecimento, contra a ciência e contra a arte.
Motivado por uma vontade de ditador – uma vontade absolutista – Bolsonaro quer submeter tudo aos seus desejos. No seu modo de pensar bruto e no seu agir grotesco, quer submeter tudo e todos à violência de suas decisões, aos desatinos de sua vontade. Investe contra o vice-presidente, contra ministros, contra o presidente da Câmara, contra as oposições, contra as maiorias e minorias sociais, contra a liberdade de imprensa, contra a publicidade que não lhe agrada e, agora, contra as Ciências Humanas e Sociais e contra a Filosofia. O ataque de Bolsonaro e do seu ministro da Educação às Ciências Sociais e Humanas e à Filosofia expressa o mais profundo ressentimento à reflexão, ao raciocínio complexo e ao pensamento crítico. Não é por acaso que a dupla, assim como as mentes autoritárias e totalitárias em geral, alimentam repulsão à Filosofia e às Ciências Humanas. Como se sabe, movimentos autoritários e totalitários se fundam na mentira e se sustentam no poder pela mentira, pela negação da realidade e pela projeção de uma realidade imaginária e arbitrária.
Bolsonaro e seu ministro da Educação certamente desconhecem que a Filosofia é a mãe de todas as ciências e que a Filosofia, assim como as Ciências Sociais e Humanas continuam sendo essenciais para o desenvolvimento de todas as outras ciências – da Física à Biologia.
Bolsonaro e seu ministro talvez sejam filhos diletos do caráter tosco do mundo moderno que deificou a técnica. Por isto, decidiram investir apenas nos cursos de caráter técnico. A técnica, que também é filha da Filosofia, tem um caráter limitado e surgiu para atender necessidades humanas. Por isto, a técnica nunca foi capaz e não será capaz de dar respostas razoáveis aos sentidos da existência humana. A perda de capacidade de dotação de sentidos para a existência humana e para as sociedades em particular mergulha o mundo em crises sem saída e em grandes riscos como os da pobreza, os da desigualdade, os das injustiça, os das migrações, os das epidemias, os de novas guerras e, principalmente, o grande risco ambiental que é um risco que afeta as próprias condições de existência da humanidade.A incapacidade de construção de sentidos faz com que a humanidade tenha perdido a consciência de seu destino trágico. Com isso, perdeu-se também a consciência de que a tarefa da humanidade na Terra consiste em completar a incompletude do mundo fazendo uso da reflexão, do conhecimento, da ciência e da técnica.
....Não é por acaso que Bolsonaro e os seus odeiam os Direitos Humanos. Os Direitos Humanos são instrumentos de libertação das camadas oprimidas da tutela dos grupos privilegiados das sociedades. Eles são instrumentos de contenção do arbítrio e da violência dos poderosos. Eles são instrumentos das lutas por liberdade, igualdade e justiça, valores inarredáveis para o desenvolvimento da perspectiva de uma universalizante boa das sociedades e da humanidade.
Aldo Fornazieri – Professor da Escola de Sociologia e Política (FESPSP).
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