Jesus crucificado é um escândalo para os pós-modernos, cristãos ou não. Estes parecem educados a ‘vencerem sempre, e a qualquer preço’. Saborear a amargura da derrota, da falência, da fragilidade é por em xeque o objetivo dos seus modelos culturais. Mais escandaloso, contudo, é expor publicamente o símbolo da derrota e do fracasso humano. E se identificar com ele. Reconhecer, enfim, que a morte, a humilhação, a condenação injusta, a brutalidade humana, a maldade fazem parte da vida cotidiana dos humanos. Daqueles que não são e não podem ser ‘super-homens’. Mais sedutor, e mais alienante, seria apresentar e cultuar um ‘todo-poderoso’ invencível que, embora temporariamente dominado, ressurge permanentemente com poder e glória. Talvez até para eliminar os seus algozes. Escândalo dos escândalos, contudo, é afirmar que ‘naqueles crucificados’ Deus também é crucificado! È como dizer a alguém que procura Deus com insistência que Ele está lá onde há alguém sendo crucificado, torturado, eliminado. Espantosamente, a presença de Deus se manifesta quando aqueles que Ele chamou à vida são injusta e barbaramente eliminados. Deus não estaria sendo indiferente ou ausente diante de tal trágico destino. Ao contrário, Ele mesmo, estaria sendo humilhado e morto nos crucificados/as da história.
Deus não está presente no crucificado porque aprova tal prática. Menos ainda porque esta seria uma espécie de expiação necessária para merecer o Seu perdão, ou para ganhar uma hipotética salvação. Ou, pior, porque Deus, afinal é, por sua natureza, um ser sedento de sangue e de sacrifícios, e se identifica mais com a morte do que com a vida plena das suas criaturas! Deus morre ‘nos’ crucificados/as como sinal radical e profético da Sua absoluta não conformação com a violência, a injustiça, a tortura e a eliminação dos seus filhos e filhas nascidos para viver a vida em plenitude. Ao morrer com eles, Deus se revela. Torna-se uma presença que contesta e protesta contra toda morte violenta, planejada, anunciada, insinuada, doce ou atroz. Uma presença que aponta para a sua radical e necessária superação. Para um compromisso intransigente em favor da defesa da vida, do direito, da integridade física e moral dos ameaçados da sociedade planetária. Ao final, convenhamos: escândalo mesmo é expor um crucifixo num prédio público, talvez num tribunal de justiça, ou numa igreja, ou no próprio peito, e utilizá-lo para camuflar a própria falta de compaixão, a sua indiferença ou até a sua cumplicidade com um número sempre maior de Pilatos, Herodes, Césares, Sumos Sacerdotes, milicinos, e massas populares manipuláveis que condenam e conduzem todo dia ao Calvário da exclusão, do racismo, da fome, da arrogância e da hipocrisia institucionalizada um número sem fim de homens e mulheres que haviam sido chamados para a vida! Chega de sextas feiras....assassinas!
Nenhum comentário:
Postar um comentário