Soam-me a algo idolátrico essas carreatas em que é exibido o madeiro da cruz do ‘Bote fé’! Tenho certeza que haverá quem gritará ao escândalo por essa minha afirmação. Explico-me. Uma manifestação de tal natureza, simbólica e aparentemente ‘de massa’, faz sentido só se for ladeada por um conjunto de atividades e posturas sócio-religiosas coerentes... que, francamente, não vejo. Em meu modesto modo de ver a cruz poderia visitar aqueles lugares e realidades humanas e sociais que precisam de verdadeira ‘redenção’. De ressurreição. Haveria, para tanto, uma preparação prévia em que comunidades, grupos e movimentos se preparariam adequadamente. E preparariam à altura o evento. Rigorosamente falando, se isso fosse feito de forma criativa e ativa nem precisaria, - após a devida mobilização e preparação, - a chegada da cruz. Afinal, as pessoas já haveriam tocado com mãos as feridas abertas que precisam de purificação e vida nova. A visita da cruz viria, no entanto, só para selar/consagrar uma caminhada anterior que por si só já estava carregada de sentido. A minha impressão, no entanto, é de que está havendo justamente o seu contrário: uma espetacular exibição do madeiro, mas sem alguma atividade sócio-religiosa que aponte para a superação/eliminação de tantas cruzes presentes na vida dos humanos. E mais: a cruz se torna uma exibição atraente só porque benzida pelo papa. A sacralidade parece estar no ‘objeto cruz’ e não no seu significado, num conjunto de atividade/compromissos que visam eliminar a cruz que mata e aniquila toda esperança. Esvazia-se, com isso, a simbologia da cruz. Ela acaba adquirindo um sentido e um poder mágico, como se pudesse produzir, por si só, efeitos positivos nas pessoas. Todavia, não as motiva a carregar a cruz do seu irmão que sofre, nem a capacitá-las a eliminar as cruzes produzidas pela indiferença e pela brutalidade humana. Dessa forma o símbolo esvaziado ou deturpado é exibido de forma espetacular como uma espécie de fetiche em carreatas que enchem os olhos, mas que não deixam rasto.... A não ser na hora de debater o número dos participantes, e os gastos um tanto exorbitantes pelos frutos que (não) deixa...
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