A rua principal da aldeia Coquinho está literalmente tomada por carros. Em sua maioria, carros oficiais. De fato, instituições, secretárias e órgãos das diferentes esferas governamentais enviaram seus representantes atendendo ao convite dos índios Guajajara. Só uma grande ausente, a FUNASA. O Ministério Público Federal não veio, mas justificou. Na pauta do encontro de 11 de abril, quatro pontos: propostas de soluções para dar um fim aos assaltos que vêm ocorrendo com uma freqüência assustadora na BR 226, no trecho indígena; resolver o problema do fornecimento de água potável que há mais de 7 anos não existe; repor em moto a educação escolar indígena em evidente estado de decadência; e explicar o papel da FUNAI após a sua reestruturação. Há uma atmosfera bastante carregada. As lideranças indígenas manifestam de imediato sua indignação diante da indiferença e do descaso ‘das autoridades competentes’ perante vários problemas que põem em risco a segurança e o futuro desse povo. O que chama a atenção nas falas formais dos representantes das instituições é que ‘no passado, realmente, não se faz nada, mas agora sim podem contar conosco’! Uma fala antiga, manjada e hipócrita! Na realidade cada órgão parece repetir o que ensaiou com primor: o efetivo é escasso, os recursos vêm minguando, as atribuições se ampliam e têm dificuldade de atender a todas as demandas. Não emergiu nenhuma proposta de solução definitiva. E nem poderia ser. As exigências indígenas eram mais que realistas. Só na questão dos assaltos, por exemplo, eles pediam patrulhamento ostensivo em diferentes horários para inibir os ‘assaltantes’, - em sua maioria ‘ não indígenas, mas infiltrados nas aldeias’, - exigência do seu cadastramento para verificar se eles possuem ficha limpa, e a possibilidade de um posto da Polícia Rodoviária Federal nas imediações da terra indígena. E, finalmente, a promessa de uma operação-relâmpago como paliativo até se encontrar uma solução definitiva que dificilmente virá. Foi unanimidade, de fato, que a solução mesmo poderá vir quando se executarem políticas públicas sérias cuidando com atenção e respeito dos direitos à educação, à saúde, às atividades produtivas, e na superação dos preconceitos, entre outros. Sem isso, e sem um sentir e agir comum entre as diferentes aldeias da terra indígena Canabrava nada feito! Uma carta aberta contendo essas e outras iniciativas aprovada e assinada pelos presentes foi dirigida ao Ministério Público Federal. Agora, de olho para que cada um cumpra o que lhe cabe!As toras de madeira que servem para bloquear o trânsito na BR 226 continuam ocupando meia pista. Prontas para entrar em ação caso não se prove um mínimo de bom senso no atendimento das legítimas exigências indígenas. Afinal, já os antigos nos ensinavam que diante de um estado omisso apelar para a 'legítima defesa' não é nenhum crime!
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