sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Educação escolar indígena no Maranhão - Alguém lá de cima está preocupado?

 Um sentimento de tristeza e indignação toma de conta das já reviradas entranhas ao visitarmos numerosas aldeias do Maranhão nessas últimas semanas. Este sentimento se torna mais intenso e mais dolorido ao contemplar, de perto, a desolação a que foram reduzidas as estruturas físicas das que outrora se chamavam ‘escolas indígenas’. Verdadeiras carcaças fantasmagóricas de tijolos quebrados, janelas arrebentadas, pisos estourados e sujeira onipresente. Haverá quem argumente que isto se deu, em parte, em todo o território do Estado. Para fazer jus à verdade o abandono dos prédios escolares e o descaso para com o que se define como ‘educação escolar indígena’, são bem anteriores à eclosão da pandemia. 

O atual momento, - que já não apresenta a gravidade sanitária de outrora, - parece só confirmar que aquelas atividades escolares, que bem ou mal se davam naqueles mal acabados espaços, foram reduzidas a meras lembranças de um passado que parece remoto. É como se tivessem transcorridos longos e incontáveis anos. O trágico, contudo, que presenciamos no Maranhão é a total e sistemática omissão dos poderes públicos nessa esfera tão central no desenvolvimento de um estudante seja qual for. Não temos informação que haja havido sequer uma pífia iniciativa institucional para manter pelo menos um contato humano virtual com os professores e os coordenadores das aldeias/escolas, conhecedores de que a internet está funcionando em muitas aldeias. Em suma, não tivemos conhecimento de alguma tímida tentativa para manter viva a chama do diálogo, da atenção ao outro, da convivência, da construção coletiva, da gostosa expectativa de se rever novamente, não importando se os períodos seriam curtos ou longos... Contraditoriamente, no entanto, viu-se nesse período eleitoral uma intensa tempestade de mensagens e postagens de cunho eleitoreiro que vários ‘gestores públicos’ encaminhavam a pessoas e grupos de diferentes segmentos. Isto revela de um lado o próprio atrelamento livre o forçado à vontade do ‘chefe maior’ e do outro uma perigosa e pouco republicana promiscuidade político-partidária, em detrimento do que deveria ser um atendimento permanente e imparcial às populações. Ficou por demais patente que a preocupação desses homens públicos nunca tem sido a de manter viva a ligação com os trabalhadores na educação formal nas aldeias, mas sim, a de divulgar nomes e números de candidatos que faziam parte do interesse político-estratégico deles e do ‘gestor maior’. 

Ainda é difícil prever quais serão as próximas medidas que o Governo do Estado irá decretar para o início de 2021na educação escolar, mas uma coisa parece saltar aos olhos de forma dramática: serão precisos longos e desgastantes meses (ou anos!) para tentar reconstruir minimamente um bom nível de motivação e de confiança recíproca, e de um razoável ritmo e clima escolar. Sem ignorar que a falta de interesse pela educação escolar indígena vem se arrastando desde há muito tempo. O clima de desmobilização produzido não exclusivamente pela pandemia, - mas muito mais pela ausência dolosa do governo estadual, - deverá ser encarado e combatido direta e firmemente pelos próprios pais e estudantes indígenas. Eles, se quiserem, deverão pegar as rédeas da educação em suas mãos contando com seus parcos meios, e o escasso pessoal docente, procurando dar a volta por cima! Um desafio hercúleo. Afinal, os únicos interessados em ver as coisas funcionando são os próprios índios, e ninguém mais!


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