Paradoxalmente João Batista prega mudança radical de vida num espaço geográfico que é sinônimo de esterilidade e de ausência de vida. Onde não existem, aparentemente, condições concretas para a mudança. As pessoas, no entanto, fugiam de seus desertos interiores e do deserto sem vida que Jerusalém e Israel haviam se tornado. O templo e suas instituições, os invasores romanos e as desigualdades criadas haviam colocado o povo num desesperador deserto social. Ao mesmo tempo, porém, fazia crescer dentro dele o desejo crescente de ouvir e ser uma ‘boa nova’. A boa nova de que podia reinventar o seu futuro, de fazer afogar um presente feito de dor, de escravidão e de dependência e poder emergir ‘na outra margem’, a da esperança, da superação, da mudança. A boa nova de que o perdão de seus pecados/dívidas sociais, econômicas e religiosas não se obtém mediante ‘sacrifícios e impostos’ mas no exercício pessoal e coletivo de uma profunda e radical mudança de mentalidade e de atitudes em todas as dimensões. ‘Misericórdia eu quero, e não sacrifícios’, ‘Lavai vossas mãos sujas de sangue e começai a defender o direito do órfão e da viúva’ tornam-se os novos princípios que desobstruem o nosso caminho/relação com Deus. Hoje, como Jesus a Boa Nova personificada, somos convidados a retirar o entulho que nos impede aceder à plena liberdade e a uma relação adulta e filial com o Pai: a corrupção e a manipulação, a violência física e moral, a alienação religiosa e o clericalismo dominador.
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