sábado, 19 de dezembro de 2020

IV de Advento - O Deus de Jesus escolhe o anônimo, o frágil, e o difamado para reerguer uma humanidade doente de poder, fama e protagonismo (Lc 1,26-38)

 O sentido e o alcance de certos acontecimentos da nossa vida nem sempre são compreensíveis no momento. Só com o passar do tempo, e através de um olhar profundo, é que eles parecem adquirir sentido e valor. O que parece desgraça agora, poderá nos parecer, amanhã, uma oportunidade de graça e de crescimento. O evangelho de hoje parece confirmar isso! O mensageiro de Deus, Gabriel, segue a lógica de um Deus um tanto peculiar. Primeiro, anuncia a uma estéril (Isabel) que vai se tornar mãe e ao seu esposo sacerdote do templo que vai ser pai, e este, naturalmente, não acredita! Depois, o anunciador vai a uma desconhecida cidade (Nazaré) da rebelde e pagã Galileia para dizer a uma jovem comum da plebe, de nome raro, Maria, que será a mãe do ‘enviado filho do Altíssimo’! Como levar a sério tais promessas, a partir dessas premissas? A narrativa carregada de força e de sentimento deixa o lugar para a teologia que desvenda o sonho-projeto do Deus de Jesus: Deus para reerguer a humanidade não escolhe o notório, o prestigioso, nem o que parece ser consolidado nas ‘escrituras sagradas’! O Altíssimo escolhe as anônimas Marias da vida – como Miriam a altiva irmã de Moisés, - que se tornou leprosa, uma castigada; o Onipotente não teme mergulhar nos lugares mais difamados e que ficam à margem das lógicas geopolíticas dos palácios; o Todo-poderoso varre a sua própria divindade e se reveste da vergonhosa fragilidade dos humanos. Um Deus humano que confunde os hermeneutas, os pesquisadores e os sabichões do sagrado. O impossível para estes, torna-se possível para ‘um humano que pensa como Deus’!


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