É num banquete
fraterno, durante a celebração da páscoa hebraica que Jesus se despede dos seus
discípulos e discípulas. Uma despedida recheada de gestos, de sinais que falam
mais do que muitas palavras. É como se Jesus tivesse planejado, ele próprio, o
momento para voltar ao Pai. Reúne aquelas pessoas e famílias que tinham sido a
sua família ao longo daqueles anos na Galiléia para comer juntos o cordeiro, os
pães e as ervas amargas, e beber o vinho da esperança. Segundo a prática
judaica tomar juntos uma refeição era também sinal de reconciliação, de
ausência de inimizades. Jesus, ao fazer isto, é como se estivesse perdoando
antecipadamente os seus que irão abandoná-lo mais adiante. Mas, agora, é
celebrar. Celebrar não somente a passagem (páscoa) da escravidão para a terra
farta do antigo Israel, e sim a passagem do próprio Jesus da paixão e morte para
a vida, e comunhão definitiva com seu Pai.
Jesus faz isso de forma consciente e serena, mesmo sentindo o clima
pesado de Jerusalém e do seu sinédrio. Paradoxalmente, na noite em que se
celebra a fim da escravidão Jesus assume o papel de ‘escravo’. Não mais de um
escravo obrigado a servir o seu senhor, mas um gesto de um livre servidor que
compreendeu que só no serviço gratuito e livre podemos encontrar a verdadeira
felicidade e a plena liberdade. Uma liberdade que liberta quem serve e quem é
servido. Um serviço que pode implicar reproduzir o mesmo sacrifício do antigo
cordeiro no Egito: doar o seu sangue para poupar da matança dos novos faraós os
filhos e filhas de Deus. e libertá-los definitivamente. Jesus queria, afinal,
deixar um recado definitivo aos seus: o seguidor de Jesus a partir do momento
que aceita fazer comunhão sentando à mesma mesa com outros irmãos e irmãs, se
dispõe também a ser cordeiro que se sacrifica e ‘escravo’ que serve. Dar a sua
própria vida como serviço permanente àqueles que continuam sendo escravizados,
torturados e esmagados. Será isto que vai alimentar a esperança ameaçada e a fé
fragilizada de um povo sempre mais cansado de caminhar nos vales do medo e da
violência.
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