Ressurreição não tem nada a ver com o
retorno à vida física de um cadáver. Todos os seres biologicamente vivos morrem
e se decompõem. Melhor dito, entram numa comunhão renovada com a mãe terra e com
o próprio universo. O corpo físico de Jesus não escapou disso. Ressuscitar,
afinal, é fazer a experiência humana, concreta, de viver e crer para além das
evidências da morte física e do desespero humano do cotidiano. É compreender
que podemos continuar a nos motivar e a nos alimentar dos sonhos, dos afetos,
das palavras e dos amores de quem já se foi. É compreender que nós, os biologicamente
vivos, podemos não só manter vivas na memória, mas também reproduzir as mesmas
opções de vida de quantos terminaram a sua missão na etapa terrestre. É a forma
que temos para não deixar apodrecer com os cadáveres os ideais de vida e os
valores de quem admiramos e amamos. No evangelho de Mateus de hoje o próprio
Jesus nos oferece a dica ‘Vão à Galileia;
lá, vocês me reconhecerão’. Ou seja, é continuando a curar os doentes,
abrindo a vista aos cegos, ajudando as pessoas a caminhar firmes na vida, e
sendo misericordiosos com quem erra, - do mesmo modo que Jesus fazia na Galileia
- que podemos mantê-lo vivo e ressurgido. E nós, os biologicamente vivos, ao
agirmos como Jesus, podemos encontrar o sentido da nossa própria vida humana,
agora. E evitar mergulhar no sepulcro da morte existencial, e da infelicidade
permanente.
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