Quem deseja conhecer ‘Como se faz um bispo segundo o alto e o baixo clero’ é só ler o novo lançamento da Editora Civilização Brasileira, (362 pp., Rio de Janeiro, 2012) de J. D. Vital. Com dados, anedotas, testemunhos, ironias finas, o autor traça um panorama sério e bastante completo sobre um tema que vez por outra volta à tona nos debates...
Em relação com a nomeação dos bispos, o autor detém-se no papel relevante dos núncios e suas assessorias nos diferentes países. A Igreja católica passou por situações plurais na escolha de bispos. Em dado momento, predominou o poder temporal. Depois se foi firmando a autonomia da Santa Sé e a crescente relevância dos núncios. Vital reproduz a ficha de informações que se pedem sobre o candidato a bispo. Elas abarcam os itens: notas pessoais, dotes humanos, formação humana, cristã e sacerdotal, comportamento, preparação cultural, ortodoxia, disciplina, aptidões e experiência pastoral, dotes de governo, capacidade administrativa, pública estima e juízo global sobre a personalidade do candidato e sobre sua idoneidade ao episcopado. Normalmente o processo segue ritual minucioso, sério, sigiloso e com enorme cuidado. Claro, onde há seres humanos há vazamentos e caminhos paralelos.
O repórter Vital recolhe nos principais órgãos e junto a pessoas que influenciam em tal processo canônico saborosas informações, não sem toque de ironia. Dá nome a quase todas as fontes usadas de modo que o leitor fica conhecendo muitos personagens do mundo eclesiástico no que pensam e agem. Não lhe faltou abordar a tristemente afamada ‘invidia clericalis’ que interfere sobretudo nos vetos às nomeações ou retarda-as. Tratou do preconceito racial que vigeu a respeito da autenticidade da vocação do negro para a vida religiosa e para a ordenação presbiteral, e com mais razão ainda episcopal. Acenou várias vezes para o famoso carreirismo eclesiástico, doença comum a toda instituição, da qual a Igreja não se isenta. Circulam até algumas regras para desenvolver tal atitude, com certo tom de brincadeira, que, porém, contém ponta de verdade. Ao terminar o livro, fica a impressão da seriedade que a Igreja atribui à seleção dos bispos. Pode errar. Mas pesquisa, informa-se, busca acertar. O leitor se vê quase submergido por tanta informação, dados, citações de conversas, referências de livros. Texto rico, disperso pela natureza própria do jornalismo. Não assume nenhum tom acadêmico ou doutrinal, mas deixa-nos perguntas profundas sobre o futuro da Igreja no referente à nomeação de seus pastores. No decorrer da leitura, muita beleza aparece na vida de tantos e tantos bispos. Boa viagem pelas paragens eclesiásticas do Brasil e do mundo!(Fonte: IHU)
Nenhum comentário:
Postar um comentário