Se depois das
primeiras declarações e posições, logo após a sua eleição, o papa Francisco
havia conquistado milhões de pessoas, agora com a Exortação Apostólica ‘Gaudium
Evangelii’ a aprovação e os consenso parecem ter aumentado exponencialmente.
Alguns falam no ‘fenômeno Bergoglio’. Outros apontam as primeiras medidas
administrativas como algo inédito. Segundo isso o papa Francisco teria feito em
seis meses o que outros papas não conseguiram fazer ao longo de 50 anos! Acredito
que católicos e não, já vinham aguardando com temor e trepidação que, enfim, um
papa começasse a falar a sua linguagem. Que fosse uma pessoa que mesmo tendo
opções, doutrinas e posturas próprias conseguisse falar ao coração dos humanos.
Havia um claro vácuo de presença pastoral dos papas no cotidiano das pessoas e
um excesso de presença midiática e teatralização. Enfim, parece ter chegado um
homem de bom senso com o qual a pessoa mais simples do povo pode se
identificar. Não um que fala ‘desde o trono’ como príncipe dono da verdade, nem
como estrela, mas como pastor. Até aqui podemos concordar. Ocorre, todavia, que
a doce andorinha, sozinha, não faz verão. Não é suficiente que o ‘iluminado’
determine para que as coisas aconteçam. É preciso comunhão de intentos e
metodologias. O papa Francesco é sim ‘idolatrado’ por muitos, mas em alguns
setores da Cúria Romana, - ainda viva e atuante, - ele é boicotado. Não somente
dentro dela. Há bispos e padres que o desprezam, literalmente. Ele estaria
quebrando, ou tentando quebrar, o arcabouço simbólico que foi construído ao
longo dos séculos e que segundo eles encontra respaldo bíblico-teológico.
Estaria trazendo para a normalidade da humanidade o que deveria estar permanentemente
envolvido pelo mistério do sagrado. Francesco estaria tirando a distância
(distanciamento) entre o homem comum e o seu mediador junto do sagrado, o corpo
sacerdotal e episcopal. O primeiro, indigno, pecador e imperfeito, o segundo,
ao contrário, 'digno, santo e escolhido' por Deus para mediar e representar o
primeiro. Nivelar e anular a distância entre os dois é o pior atentado que pode
ser cometido por um papa, ‘chefe da igreja’. Aqui não se trata de dar vida a
medidas mais ou menos reformistas, aqui está em jogo a essência da identidade
dos ‘senhores do sagrado’ que vêem nesse papa, embora não o gritem, que ele não
pode ser seguido.
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