Na sexta-feira 22, a TV Mirante, afiliada à Rede Globo que pertence à família do senador José Sarney (PMDB-AP), levou ao ar uma entrevista com Flávio Dino (PCdoB), candidato ao governo do Maranhão, e concorrente de Lobão Filho (PMDB), aliado de primeira ordem dos Sarney, como parte de uma série de entrevistas com os candidatos ao governo do estado. Mas o programa quase não tratou de propostas. Isso porque o repórter da emissora Sidney Pereira e a âncora do Jornal do Maranhão, Amanda Couto, gastaram boa parte do tempo da conversa para questionar se Dino irá “implantar o comunismo no Estado”. O candidato respondeu: ‘Claro que não. Pelo contrário. Na verdade nosso mandato, se acontecer, será de todos os maranhenses. O que nosso estatuto diz que é que os partidos políticos que são garantidos e assegurados pela Constituição têm a sua importância na democracia”, rebateu o candidato.
Depois o âncora pergunta: ‘os comunistas visam a conquista do poder pelo proletariado e seus aliados e tem como objetivo superior o comunismo. Se o senhor for eleito, o senhor vai implantar o comunismo no Maranhão?” “Sidney, isso implicaria em revogar a Constituição e todas as leis brasileiras. Nenhum governo pode fazer isso. Realmente a pergunta parte de uma premissa segundo a qual o Maranhão seria algo contrário à Constituição e às leis", resumiu Dino antes de criticar o tom da pergunta. "O meu compromisso, a minha vida toda, é cumprir a Constituição e as leis e assim vai ser feito. Eu sou um democrata. O meu partido defendeu a democracia e eu não entendo, Sidney, porque tanta perseguição que tem um, inclusive, um sabor de ditadura militar. Eu acho que esse tempo passou. A ditadura faz 50 anos.
O repórter disse que "teve o cuidado" de olhar o programa de governo de Flávio Dino e que no documento consta a proposta de criar uma rede solidária em parceria com as igrejas católicas. Em seguida, perguntou: "Como comunista, como é que o senhor pretende convencer a Igreja Católica e os católicos a votar no senhor e apoiar esse projeto? Qual o argumento?""Primeiro que o estado é laico", retrucou Dino. "Na verdade, a religião não se confunde com a política. E eu sou católico, por isso talvez seja mais fácil até convencer os católicos. E sou cristão, por isso que há muitos evangélicos ao nosso lado. Tenho muita alegria e muito orgulho de ter milhares de militantes de várias igrejas ao nosso lado. Por isso estamos propondo uma grande parceria na campanha. Políticas sociais de combate às drogas, ao analfabetismo...a igreja tem e terá grande papel no meu governo", complementou Dino.
Se o motivo da pergunta ainda não tinha ficado claro, o próprio repórter resolveu explicar. "Então é bom esclarecer, né, porque a partir do momento em que se é comunista fica a ideia de que é [também] ateu. Não é bem assim?", concluiu ele antes de ser corrigido pelo candidato.
"Eu sugiro a você, Sidney, ler o livro Ato dos Apóstolos, capítulo quatro, versículo 32, que dá uma boa definição do modo de vida dos cristãos. E como quem é comunista defende a comunhão, defende a comunidade, e é contrário ao império do dinheiro, à ditadura do dinheiro. É um bom caminho você ver que é possível, sim, como eu, ter a alegria de ser comunista, cristão, maranhense e brasileiro". (Fonte: Carta Capital)
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