sábado, 1 de fevereiro de 2014

Domingo da apresentação - Jesus homem coerente e despreocupado com a própria imagem revela as contradições dos que cultuam sua própria imagem (Lc. 2, 22-40)

"Este menino vai ser causa
tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel.
Ele será um sinal de contradição.
35 Assim serão revelados
os pensamentos de muitos corações”.

Frequentemente ouvimos dizer a respeito de alguma pessoa conhecida que ela é amada e admirada por todos. Que todos gostam dela. Que ninguém tem algo a dizer sobre ela a não ser o de falar bem dela. É para se desconfiar! Em geral, quando ‘todos’ falam bem de uma mesma pessoa é para suspeitar que haja algo errado. Ou todos possuem o mesmo modo de pensar, - o que é inverossímil, - ou a pessoa que consegue tais consensos universais talvez não seja tão conhecida como parece. Talvez as pessoas fiquem só nas aparências na hora de manifestar um parecer sobre ela e se pronunciam com certa superficialidade. Certamente não foi isso que ocorreu com Jesus. Desde cedo ele foi causa de ‘contra-dição’, ou seja, muitos por causa dele ‘diziam contra’ ele ou contra algo que ele vinha propondo. Jesus, diferentemente daquelas pessoas que procuram de forma doentia a aprovação sistemática ao seu jeito de ser e de pensar, se preocupou em ser somente coerente, e não cair em ‘contra-dição’, custe o que custar. Muitas pessoas desejam ser elogiadas e ser objeto de admiração pública como se isso pudesse ocultar as contradições que carregam dentro de si. Acreditam que ao agradar e ao consentir tudo o que os outros esperam dele seria mais aceito, e ele teria mais satisfação interior. Já Jesus nos alertava’ Ai vós quando todos vos elogiarem....’(Lc.6,26), pois esta é a atitude dos hipócritas com os falsos profetas. A preocupação, portanto, não deveria ser com a nossa imagem, se amada e cultuada, ou detestada e criticada. 
A verdadeira preocupação é com a nossa coerência de vida, com a nossa busca de fidelidade e obediência aos valores éticos, à verdade e à justiça no nosso modo de proceder, e nas nossas relações humanas. Coerência a um projeto de vida que necessariamente não agradará a todos, e que incomodará muitos, quem sabe, a maioria. Ao agirmos ‘sem contradição’ iremos provocar diferentes reações nas pessoas que vivem conosco: de estima por parte de alguns, e de rejeição e indignação por parte de outros, principalmente por parte daqueles que se sentirem atingidos pelo nosso comportamento íntegro. Quando Lucas faz questão de relatar essa cena da apresentação de Jesus ao templo é para nos transmitir essencialmente dois recados. O primeiro: Jesus ao  longo da sua vida tomou partido, não ficou em cima do muro querendo agradar a todos, indistintamente. Na sua ação e opção de vida Jesus fechou com um grupo bem específico: os pobres e excluídos da casa de Israel, mesmo sem desprezar os demais. Nisso ele causou desnorteamento e escândalo em muitos em Israel. O discípulo dele não pode e não deve fazer diferentemente.O segundo recado: ao agir dessa forma Jesus ‘incentivava’ moralmente as pessoas a se manifestarem do jeito que são, a se revelarem e a não esconderem o ‘pensamento do seu coração’ (v.35). Em outras palavras, a serem pessoas sinceras, transparentes, a dizer e a assumir aquilo em que acreditam. Sem disfarces, sem máscaras! Só assim se poderia construir um novo jeito de sermos humanos.


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