Muitos de nós somos testemunhas de que em muitas famílias extensas certos serviços só caem nas costas algumas poucas pessoas. Frequentemente só numa somente! Serviços pesados, desgastantes e delicados. Cuidar dos pais anciãos e doentes, tomar de conta do netinho com problemas físicos, socorrer algum familiar próximo quando estouram problemas com sobrinhos envolvidos com más companhias e que entraram no círculo vicioso das drogas. Pacificar alguns irmãos que andaram se estranhando, manter unida a família quando ‘os velhos’ morrem, principalmente a velha mãe. O pior é que o restante da família e, paradoxalmente, os próprios ‘socorridos e servidos’, muitas vezes, se tornam intransigentes com a pessoa que mais cuida deles, e que o faz com amor e dedicação gratuita. Tornam-se verdadeiros ‘servidores/cordeiros’ que carregam sobre si as dores, as revoltas, as angústias, as inseguranças de pessoas que sozinhas não teriam condições de enfrentar e carregar. O evangelho hodierno de João reflete o olhar do ‘velho’ discípulo que Jesus amava ao resgatar o itinerário espiritual e humano do seu mestre. Ele, de forma perspicaz, coloca bem no início do seu evangelho, no início da vida pública de Jesus, quem Jesus representou para ele e para os discípulos. Nesse curto e intenso prelúdio está a vida inteira de Jesus. Ele é o ‘cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo’.
João quer nos dizer que para compreender o alcance da missão e da identidade de Jesus é preciso que o encaremos como aquele que se oferece para tirar tudo o que oprime e escraviza o ser humano. Escolhe a imagem do cordeiro e a aplica a Jesus em referência ao sangue do cordeiro utilizado para ‘salvar da violência assassina do Faraó’ os primogênitos judeus no Egito. Por ser o alimento pascal que simboliza libertação e transformação de uma vida de escravidão para uma realidade de vida plena e liberdade. Jesus, de fato, representou tudo isso para os pobres e pecadores excluídos da sua região. Carregou sobre si e libertou os cegos que eram vistos como castigados e punidos por Deus por supostos pecados cometidos por eles ou por alguém da família. Misturava-se e almoçava com cobradores de impostos conhecidos como pecadores públicos e lhes oferecia a chance de uma vida nova. Tocava e libertava as pessoas portadoras de espíritos impuros, vítimas de traumas e violências psicológicas, e por isso, marginalizados. Num regime que pregava egoísmo e individualismo Jesus aponta caminhos de participação e gratuidade. Numa sociedade em que o ‘improdutivos e os incapacitados’ devem ser marginalizados e até castigados, Jesus e muitos cordeiros da vida tornam-se modelos incômodos de vida por servi-los no silêncio e na mansidão, cuidando deles com amor. Num sistema social em que ‘os bandidos’ devem ser liquidados ou, pelo menos, torturados e humilhados Jesus e tantos outros cordeiros da paz de hoje abrem caminhos ousados para que seja respeitada a integridade física e moral de todos os filhos e filhas de Deus.
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