Dezesseis dias após o violento protesto na cidade de Humaitá contra os índios do sul do Amazonas, lideranças indígenas relatam um clima de tensão e ameaças na reserva Tenharim Marmelos, cortada pela rodovia Transamazônica. Segundo os Tenharins, os índios vêm recebendo intimidações diárias por mensagens e via internet e paira no ar um temor de novos ataques. Com medo de ir à cidade de Humaitá, localizada a 675 quilômetros de Manaus, eles relatam um estado de sítio na reserva, o que dificulta o acesso a medicamentos e alimentos. "O que está mais preocupante é a parte da saúde, que falta de um modo geral. Faltam medicamentos e atendimento médico na aldeia. Há pacientes com doenças graves e que precisam de acompanhamento médico de alta complexidade", relatou o cacique Aurélio Tenharim. O conflito entre brancos e índios na região se intensificou no dia 25 de dezembro, quando manifestantes em Humaitá depredaram as sedes da Fundação Nacional do Índio (Funai), da Fundação Nacional de Saúde (Funasa) e atearam fogo contra onze carros do órgão. Os moradores acusam os indígenas de estarem por trás do desaparecimento de três homens, vistos pela última vez na reserva. Segundo os manifestantes, o desaparecimento seria uma retaliação à morte do cacique Ivan Tenharim, cujo corpo foi encontrado na beira da estrada com hematomas e um ferimento na cabeça. No dia 6, foram encontrados “sinais de um veículo incendiado”, mas que não foram identificados como partes do automóvel dos desaparecidos. “Somos inocentes desta acusação, e esperamos que essas buscas terminem logo para que isso fique esclarecido de uma vez por todas”, afirmou o cacique Aurélio. Outro ponto de tensão entre brancos e índios é a cobrança de pedágio realizada pelos índios na Transamazônica há oito anos para os carros que passam pela rodovia. Para os indígenas, não se trata de um pedágio, mas de uma “cobrança de compensação” pelos impactos sociais e ambientais provocados pela rodovia Transamazônica desde a sua construção nos anos 70, durante a ditadura. A cobrança é para garantir a sobrevivência dos povos indígenas, porque não tem nenhum projeto do governo federal que dê sustentação aos tenharins e aos jiahuis”, afirmou Aurélio. (Fonte: Carta Capital)
Comentário á margem - O histórico é importante para justificar a cobrança de compensação, decidida por eles em assembleia, e definida pelos brancos como pedágio. “A vida nunca vai ser paga, foi quase uma extinção”, diz o cacique Aurélio Tenharim. “O governo nunca teve política pública para o desenvolvimento dos povos indígenas. Nós somos os protetores da Amazônia”, sublinha Aurélio. O antropólogo Edmundo Peggion, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Araraquara, estudou os Tenharim no mestrado e doutorado. Não há exagero no relato dos Tenharim, ele diz, ao se referir ao massacre na abertura da Transamazônica. Esse massacre foi também lembrado publicamente por Aurélio Tenharim em debate no dia 7 de janeiro com o comandante militar da Amazônia, general Eduardo Villas Bôas. O antropólogo confirma que a população original, de 10 mil pessoas, foi dizimada. Chegou a pouco mais de cem pessoas na época da abertura da Transamazônica – onde, de fato, os Tenharim trabalharam. Nos anos 80 eram 180 membros da etnia. Quando ele fez mestrado, de 1993 a 1996, eram 300. (Fonte:IHU)
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