O Brasil do deu-certo, a sexta potência econômica do mundo, o país da Copa é também o Brasil de Pedrinhas, carregando em si todas as marcas da abissal desigualdade. Parêntesis para situar Pedrinhas: prisão construída para mil e setenta pessoas que comporta duas mil e quinhentas. No interior da prisão o poder está na mão de presos de facções criminosas que dispõem de smartphones e de até armas. Parêntesis econômico para localizar o Maranhão: é estado brasileiro com maior índice de pobreza extrema, com a menor esperança de vida e com a segunda maior taxa de mortalidade infantil do Brasil. Parêntesis político para entender o Maranhão: miséria, escravatura, corrupção, nepotismo, desvio de verbas públicas, coronelismo... “O que acontece no Maranhão infelizmente retrata uma realidade dos presídios de todos os Estados brasileiros. Quem manda nos presídios são os presos. Os governos não têm políticas públicas para as penitenciárias nem estrutura para controlar esses detidos”, sublinha o juiz federal Walter Nunes da Silva Júnior, que por dois anos inspecionou presídios de 11 Estados brasileiros. A situação poderia ser mais caótica, já que em nenhuma prisão os presos vêem seus direitos humanos respeitados. “De uma maneira geral, a maioria dos presos até são pacíficos demais. Imagina uma pessoa ter que se revezar para dormir, ficar dias e dias sem tomar banho, sem ter direito de ver o sol, ter de dividir com outras 300 pessoas uma cela que tem capacidade para 36 e tem apenas um banheiro. Isso tudo é revoltante. Eles [os presos] acabam criando códigos de conduta para poder sobreviver e, quando essa conduta não é respeitada, começam as brigas que acabam em mortes”. Não interessa se as vítimas de Pedrinhas eram favelados, traficantes, criminosos ou condenados sem crime e sem pena a noites de espera, quase metade das detenções no Brasil são “provisórias” isto é são baseadas na suspeita, suspeita que quase sempre tem um perfil: jovem, negro ou caboclo, favelado ou da periferia. O mesmo perfil de quem dificilmente pode aceder à Justiça ou pagar a um advogado. Este é o Brasil de 2014. É preciso parar para pensar, porque como escreveu Eliane Brum “porque esses, que assim morrem, só morrem porque parte da sociedade brasileira sente menos a sua morte. É cúmplice não apenas por omissão, mas por esse não sentir que se repete distraído no quotidiano. Por esse não sentir que não surpreende ninguém ao redor, às vezes nem vira conversa. (Fonte:Blog de Helena Ferro Gouveia)
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