segunda-feira, 9 de abril de 2012

Carta aberta ao irmão Bento XVI

Caro irmão Bento XVI, paz e graça em Jesus! Escrevo-lhe essas poucas linhas, mesmo sabendo que dificilmente irá lê-las. Gostaria de manifestar de um lado a minha admiração pela coragem com que nessa sua avançada idade continua a enfrentar os desafios da igreja. Do outro lado, não posso deixar de expressar minha divergência quanto às suas últimas declarações, principalmente as que pronunciou por ocasião da quinta feira santa ao citar um grupo de padres que estariam invocando uma ‘desobediência organizada’ contra certas normas vigentes na nossa igreja católica. Entendo, em parte, seus temores e angústias, mas não achei que o senhor estivesse agindo coerentemente com o ‘gesto histórico’ do nosso Inspirador maior, Jesus de Nazaré. Ao lavar os pés dos seus seguidores e de suas discípulas o nosso Mestre nos ensina a não fazer prevalecer o prestígio do cargo que ocupamos, mas a servir sem reservas, colocando-nos sempre no último lugar. Por que, então, o senhor apela ainda à obediência cega e acrítica, em lugar da persuasão? Por que tenciona intimidar padres e bispos em suas visitas ‘ad limina’ a Roma por pedirem simplesmente que uma pessoa que é confirmada pela igreja na sua vocação sacerdotal possa também casar, se assim o desejar? Por que resistir ainda a abrir um debate universal-católico para ver a possibilidade de ‘conceder’ o sacerdócio ministerial às mulheres que têm vocação para tanto? O senhor que é teólogo refinado sabe, como nós sabemos, que não há nenhum impedimento teológico e dogmático. Que ao conceder isto, em momento algum ofenderia a prática de Jesus de Nazaré. Perdoe-me se me atrevo a dizer mais uma coisa: falei em ‘conceder’, pois esta é a linguagem comum utilizada na nossa igreja, mas numa igreja participativa e fraterna deveríamos utilizar outros termos. Concessão manifesta uma relação assimétrica entre as partes. Há alguém que decide, manda, e alguém que aceita e que executa. Não assim deveria agir a igreja de Cristo que tem como única cabeça Jesus de Nazaré. Imagino o quão dolorido seja para o senhor ter que ouvir isso e entendo que talvez a sua idade não o ajude a manter serenidade e paz interior. Não posso ignorar os clamores e as críticas, - nem todas injustas, - contra um modelo de igreja que parece se afastar sempre mais das práticas do Reino que Jesus testemunhou. Caro irmão, acredito que senhor merece um justo e merecido repouso. Deixe que outros mais novos e com mais estrutura psicofísica assumam o pesado fardo de coordenar a nossa igreja. Continue no nosso meio como ‘sábio apóstolo e conselheiro.' Um irmão que doou sua vida para confirmar os seus irmãos e irmãs na fé, mas que agora, com sentimento de dever cumprido abre espaço para que outros assumam essa missão! Seu irmão na fé....

Um comentário:

H&A_Eventos disse...

É isso aí Pe. Claudio. Todo apoio a campanha "desobediência organizada" e parabéns pela resposta/carta que contemplou muitos de nós católicos. Estou socializando, vale a pena. Afinal, a campanha tem que ganhar todo espaço merecido na comunidade católica.
ALESSANDRA SANTOS
CEDOC - Turma 1997