O anúncio com caracteres cubitais está exposto de forma bem visível na parte externa do templo, ou mesmo da igreja católica: ali, nas quartas e sextas de toda semana haverá culto ou missa de ‘cura e libertação’. É só entrar, assistir aos trabalhos do pastor ou do padre, pagar e esperar os efeitos da sessão. Os benefícios, para alguns, podem ser imediatos. Já para outros poderão vir mais adiante, talvez após várias sessões. Há quem pense que isto seja algo profundamente evangélico. Afinal, foi o próprio Jesus quem deu autoridade e mandou os seus seguidores a libertarem e curarem as pessoas de todo espírito imundo que escravizava e atormentava a vida de tantas pessoas....Ocorre que há uma diferença essencial entre a prática de Jesus de Nazaré e a reproduzida pelos ‘ilusionistas do sagrado’. Jesus entendeu a si mesmo como profeta em ação. E não um curandeiro que fica à espera de pacientes. Jesus sai à procura das ‘ovelhas feridas-perdidas da casa de Israel’. Ele não fica num templo, num salão, ou numa igreja esperando por ‘fregueses’ desejosos de serem ‘libertados’. Jesus entende que é no contato direto e pessoal, na convivência com o sofredor marcada pela ternura e pela compaixão, que Deus se revela e age na pessoa ferida e machucada física e moralmente. Jesus, diferentemente de tantos ‘profissionais da cura e libertação’ não precisa dar ‘bênçãos especiais, nem de pronunciar fórmulas mágicas, nem de emitir gritos satânicos’ para libertar quem por muito tempo foi vítima da indiferença, da violência e da humilhação humana.
Jesus quando envia os seus discípulos e discípulas para curar doentes e expulsar os demônios do medo e de tantos complexos de culpa é porque sabe que el@s já adquiriram estrutura humana consistente para enfrentarem os poderes ainda fortes do anti-reino. E fé suficiente para provarem através de gestos de carinho e compreensão que o Reino de Deus chegou definitivamente até eles. A ênfase do envio-missão de Jesus não está n@s discípul@s que curam e expulsam, mas no Reino de Deus anunciado por Jesus, e que chegou através dele para libertar as vítimas do anti-reino. E re-criar pessoas novas, abertas para acolher a nova dinâmica trazida por Jesus: a boa nova. A narração evangélica de Marcos nos faz imergir definitivamente numa realidade muito distante dos espaços sagrados institucionais onde, supostamente, Deus habitaria e se revelaria. O ‘templo’ de Jesus são os corpos feridos, possuídos, escravizados e dominados que anseiam por vida nova. As ‘liturgias e ritos’ de Jesus e de seus discípulos se dão no altar de tantos corpos-espíritos sacrificados pela maldade e indiferença humana. Hoje, como Jesus e seus discípulos, somos chamados, como igreja, a sairmos de nossos templos refrigerados e aconchegantes que fedem a incenso, e calçarmos as sandálias da humildade. Percorrendo as ruas e becos das nossas cidades e aldeias e ajudar a levantar tantos caídos e possuídos que jamais entrarão no templo ou na igreja para louvar ou para receber ‘cura e....libertação’!
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