sábado, 28 de julho de 2012

Um 'pequeno' faminto desencadeia a multiplicação de pão e esperança para matar a fome de vida! (Jo.6, 1-16)


Quem de nós nunca fez a experiência de ter fome ou de passar fome? Não importa qual tipo de fome. Sentir, por exemplo, um desejo fisiológico de se abastecer, de se saciar e satisfazer aqueles estímulos que parecem nos levar ao desfalecimento no seu sentido mais amplo? Mas sentir também a necessidade de satisfazer aquele desejo quase visceral de justiça, de direito, de respeito, de reconhecimento do próprio valor? A fome e sede de justiça de que fala Jesus? João no trecho evangélico hodierno nos apresenta um Jesus atento aos mais recônditos desejos e expectativas humanas. Uma atenção que precede as manifestações e as explicitações das próprias pessoas. Jesus, na sua capacidade compassiva se antecipa a qualquer formulação e pedido. ‘Jesus ergueu os olhos e viu uma multidão avançando...’ faminta de curas, de proteção, de acolhida, de aconchego, de comida. Nesse sentido ‘a fome’ tal como Jesus a interpreta parece ser uma fome que vai mais além da manifestação-satisfação fisiológica. É sim fome de pão material, concreto, mas é, acima de tudo, a manifestação da fome de um povo que nunca havia visto realizadas e satisfeitas suas mais profundas e legítimas aspirações. João apresenta, ao mesmo tempo, um Jesus que conhece seus próprios discípulos e a lógica que os guia. Uma lógica ainda dominada pela equação custo-benefício: quanto dinheiro seria preciso para atender às expectativas e às ‘exigências’ humanas? Uma lógica que vai encurralando e descartando qualquer possibilidade de recorrer á ousadia, à criatividade, ao inédito. Jesus não só rejeita radicalmente tal lógica como aponta para soluções que já se encontram ao alcance dos próprios ‘famintos’. Apontadas e experimentadas por eles. Ou seja, Jesus nos deixa claro que são os ‘famintos’ que conhecem o drama da fome, e as suas consequências. E que, por isso, têm condições de apontar para soluções viáveis, possíveis. A satisfação dos estímulos produzidos pela ‘fome’ é definitivamente realizada pelas próprias vítimas da fome e não pelos ‘abastados e saciados’, pelos possuidores de dinheiro e bens. Aliás, eles são os produtores da fome que se enriquecem pela indústria da miséria, da fome, da sonegação. 
Um menino, talvez um ‘pequeno’, um invisível, um dos muitos anônimos da massa que avança rumo a Jesus é quem possui e disponibiliza ‘cinco pães e dois peixes’. São os alimentos básicos, estritamente necessários para não passar fome totalmente. Ele, o faminto, os disponibiliza para que outros possam matar a fome que ele mesmo sente. Sem querer o faminto desencadeia o processo multiplicativo e distributivo operado por Jesus. É como se o próprio Jesus tivesse sido incapaz de operar a distribuição-satisfação das necessidades e aspirações da massa se aquele ‘faminto’ não tivesse colocado a disposição dele e de todos o que ele mantinha como essencial para matar a sua própria fome. Foi o gesto desse ‘pequeno faminto’ que motivou outros ‘pequenos famintos’ daquela massa a socializar seus pães e peixes, ou seja, suas pequenas ou médias soluções. Contribuições e aberturas para satisfazer as inúmeras e vastas necessidades e aspirações de uma massa que, na medida em que ‘partilha’ de forma organizada, deixa de ser massa, e se torna definitivamente povo. Povo que constrói o seu futuro alicerçado, agora, numa nova lógica. Não a do dinheiro que ‘compra’, nem a de acumular e segurar para si, mas a lógica que ele acabava de compreender e adotar. Passar da compaixão e atenção ao outro para o atendimento concreto, histórico e estruturado de tudo o que surge de um coração humano faminto e sedento por plenitude de vida.

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