O Cardeal Martini escreveu há poucos dias uma última crônica no Corriere della Sera e anunciou que, por idade e enfermidade, se retiraria de uma presença na opinião pública para preparar-se, num tempo de meditação, para a grande e definitiva passagem. Cala-se uma das grandes vozes proféticas que temos hoje. Ele é um daqueles Padres da Igreja tão caros a Comblin.... Martini, no sínodo dos bispos europeus de 1999, pensava num futuro concílio e inclusive, indicou alguns temas que poderiam estar na sua pauta (a posição da mulher na sociedade e na Igreja, a participação dos leigos em ministérios, a sexualidade, o matrimônio, o sacramento da penitência, o ecumenismo...). Mais adiante, em 2008, em Colóquios noturnos em Jerusalém, considerando o celibato como uma vocação pessoal e apontando a liberalização do uso dos preservativos, ele pensava que um concílio deveria talvez tratar apenas de um ou dois pontos, deixando os outros para futuros concílios. Nesse mesmo ano, demonstrava um certo pessimismo com relação às mudanças (na igreja). "Houve um tempo no qual sonhei com uma Igreja na pobreza... que dá espaço aos que pensam mais longe... Uma Igreja jovem. Hoje já não tenho esses sonhos. Depois de 75 anos decidi rezar pela Igreja” (El País 25-5-2008)....
......Em lugar de priorizar um trabalho evangelizador fecundo e irradiante nas bases e nas pequenas comunidades, as autoridades religiosas parecem preferir as grandes manifestações de massa, como o recente encontro das famílias em Milão, reafirmando velhas fórmulas e como poderá acontecer provavelmente no encontro dos jovens aqui no Rio, no ano que vem.....Mas há movimentos significativos pelo mundo afora, pedindo mudanças e uma profecia difusa em tantas intervenções. As religiosas americanas e a teóloga Elizabeth Johnson, os padres alemães afirmando o direito à desobediência, os teólogos de língua alemã, dois bispos da Austrália, um dos quais, o de Camberra, renunciou denunciando a política vaticana, o próprio arcebispo de Paris pedindo mudanças em Roma, vários teólogos espanhóis tão valentes e que estão sob a mira do ex-Santo Ofício (Pagola, Queiruga).... É curioso constatar como, em voz baixa, bispos e sacerdotes são favoráveis a vários pontos, ao fim do celibato obrigatório, ou à ordenação de mulheres. Mas se calam numa autocensura de pobre e rasteira prudência......
......O Cardeal Martini ao ser nomeado de surpresa, arcebispo de Milão escolheu o lema: Pro veritate adversa diligere, isto é, amar a contradição, o adverso, o diferente e a diferença. Por amor a uma verdade que não está feita, mas se faz. Chave para o diálogo inter-religioso. O teólogo italiano, leigo, Vito Mancuso, ao comentar o lema de Martini recupera com coragem o sentido profundo de heresia, que vem do grego haíresis, escolha. E cita Peter Berger na sua ideia do imperativo herético. Não se trata de querer ser original a toda prova, nem de negar a tradição, mas estar aberto às contradições. E descobrir nas heresias – sendo mesmo um pouco herege – as verdades escondidas numa realidade contraditória.
(livre adaptação do artigo de Luiz Alberto Gómez de Sousa: profecia e consciência em ADITAL)
......Em lugar de priorizar um trabalho evangelizador fecundo e irradiante nas bases e nas pequenas comunidades, as autoridades religiosas parecem preferir as grandes manifestações de massa, como o recente encontro das famílias em Milão, reafirmando velhas fórmulas e como poderá acontecer provavelmente no encontro dos jovens aqui no Rio, no ano que vem.....Mas há movimentos significativos pelo mundo afora, pedindo mudanças e uma profecia difusa em tantas intervenções. As religiosas americanas e a teóloga Elizabeth Johnson, os padres alemães afirmando o direito à desobediência, os teólogos de língua alemã, dois bispos da Austrália, um dos quais, o de Camberra, renunciou denunciando a política vaticana, o próprio arcebispo de Paris pedindo mudanças em Roma, vários teólogos espanhóis tão valentes e que estão sob a mira do ex-Santo Ofício (Pagola, Queiruga).... É curioso constatar como, em voz baixa, bispos e sacerdotes são favoráveis a vários pontos, ao fim do celibato obrigatório, ou à ordenação de mulheres. Mas se calam numa autocensura de pobre e rasteira prudência......
......O Cardeal Martini ao ser nomeado de surpresa, arcebispo de Milão escolheu o lema: Pro veritate adversa diligere, isto é, amar a contradição, o adverso, o diferente e a diferença. Por amor a uma verdade que não está feita, mas se faz. Chave para o diálogo inter-religioso. O teólogo italiano, leigo, Vito Mancuso, ao comentar o lema de Martini recupera com coragem o sentido profundo de heresia, que vem do grego haíresis, escolha. E cita Peter Berger na sua ideia do imperativo herético. Não se trata de querer ser original a toda prova, nem de negar a tradição, mas estar aberto às contradições. E descobrir nas heresias – sendo mesmo um pouco herege – as verdades escondidas numa realidade contraditória.
(livre adaptação do artigo de Luiz Alberto Gómez de Sousa: profecia e consciência em ADITAL)
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