Não precisa ser pais biológicos para ser ‘pai e mãe’ para um filho. Pais são aqueles que assumem, de fato, a responsabilidade de amar, educar, proteger e acompanhar uma criança que lhe foi confiada. Pode ser um tio, uma avó, um irmão maior...um padrasto. Esta é, afinal, a ‘sagrada família’ de Nazaré. Uma família que em muito se assemelha a muitas das nossas famílias nordestinas. Esta, no entanto, é só a configuração externa, visível, a estrutura de muitas famílias hodiernas. Algo sempre mais freqüente diante da fragilidade e do encurtamento temporal das relações entre casais. Muitas causas já razoavelmente conhecidas vêm a contribuir para esse fenômeno. Existe outra explicação que a meu ver não aparece na hora de compreender a complexidade da família, hoje em dia. O homem e a mulher começaram a se conhecer melhor. A si próprios e ao outro. A psicologia, a neuropsicologia e outras ciências começam a revelar o complexo universo de sentimentos, emoções, reações, de ‘químicas’ que entram em jogo numa relação a dois. Não é somente a liquidez social e de valores que facilita a desestabilização de uma relação conjugal. Não é só a moral católica que prega a ‘união por toda a vida’ que assusta e que, na prática, está sendo colocada no escanteio. Muitos se perguntam por que deveriam viver a vida inteira ou agüentar o mesmo parceiro/a por um longo tempo se a relação entre os dois já implodiu. Só porque há filhos pelo meio? Só porque há um documento formal que, supostamente, os pressiona a permanecer juntos para além de toda evidência?
A mulher tem uma sensibilidade extremamente diferente da do homem. Sente muito mais do que ele a perda do companheiro, mesmo quando ele a trata de forma grosseira e rude. Ela alimenta sonhos com ele. O homem vive o cotidiano ao lado dela de forma utilitarista, pragmática. Quantos homens se imaginam envelhecer ao lado de suas companheiras, tendo os filhos bem próximos deles? Quantos homens sentem a mesma atração originária depois que sua mulher/companheira teve um-dois-três filhos? Para as mulheres amar e se dedicar à pessoa que escolheu é algo normal. Paradoxalmente, hoje que temos mais possibilidade de nos conhecer e de conhecer melhor um ao outro, em profundidade, é com extrema leviandade que muitos jovens e adultos ‘se juntam’ e não se preparam para tanto. Acham natural ...'se juntar e conviver' como se isso não exigisse preparação, disposição, sintonia de sentimentos e projetos de vida consensuais. Largam a companheira/o e iniciam uma ‘nova aventura’ com outra/o. Se não der certo, muda-se! Esquecem que toda relação que implode deixa um rasto de sentimentos de fracasso, de falência, de desamor, de indignação. Esquecem que todo filho ‘separado’ de um pai ou de mãe cresce com sentimentos de abandono, de rejeição, de revolta. José escolheu proteger e cuidar de uma mulher e de um filho que não eram dele. Jesus acabou se tornando com o tempo um ‘filho dele’ e Maria, a esposa dele. Assumiu a responsabilidade paterna de educar Jesus e amá-lo mais de que um pai biológico. Em tempos de ameaças, perseguições e inseguranças nada melhor do que um pai e uma mãe, um esposo, uma esposa ao nosso lado!
Nenhum comentário:
Postar um comentário