sábado, 5 de março de 2016

CARTA ABERTA À PARÓQUIA SÃO DANIEL COMBONI

São Luis, 05 de março, 2016

Prezados coordenadores, irmãos e irmãs
da paróquia São Daniel Comboni, paz e graça em Jesus. Acatando as preocupações da CNBB e de muitos setores da sociedade venho através dessa manifestar minha indignação como cidadão e como irmão de caminhada de vocês diante do que aconteceu ontem, dia 4 de março quando, mais uma vez, se fez de um abuso de poder perpetrado por um juiz de Curitiba e um grupo de procuradores, um verdadeiro espetáculo midiático. Em nome da verdade e da honestidade esses justiceiros que só enxergam um lado somente da realidade, cometeram um verdadeiro atropelamento das regras básicas das garantias individuais constitucionais. Algo que deveria nos preocupar enormemente - e não só porque ocorreu com um ex-presidente da República, - mas porque se aconteceu com ele o que poderá acontecer com um cidadão comum?
As reações no mundo jurídico de direita e de esquerda condenaram quase unanimemente o abuso cometido, e a espetacularização que tem o intuito de destruir não só a imagem de ‘uma pessoa’ que incomoda, mas  uma página da nossa história. Isso não significa que devamos renunciar à verdade, ao contrário. Quem de nós não fica horrorizado com a corrupção que se dá em todas as esferas e instâncias? Quem de nós não quer ver a verdade e a justiça triunfarem? Alguém é contra que se investigue, seja quem for? Claro que não! Entretanto não é justo expor e condenar de antemão quem quer que seja. Já os antigos Romanos, criadores do moderno direito diziam que uma pessoa é inocente até se PROVAR O CONTRÁRIO, mas isso não é o que vemos ocorrer em Brasília, em São Paulo, em São Luis e na Vila Embratel, entre outros. O caso Lula nos remete diretamente às nossas famílias e filhos que aqui vivem, e que todo dia são vítimas de abuso de autoridade de policiais que vivem ameaçando, extorquindo, cobrando, revistando, invadindo domicílios, matando sem que haja investigação, e pior, julgamento justo. Não podemos, como paróquia, permanecer inermes e amedrontados.  Fico indignado sim, quando leio as piadinhas sem graça e insossas de pessoas - supostamente com espírito crítico - contra este ou aquele personagem que a Globo lhe impõe. Ao veicular essas piadinhas ela mostra tão somente a sua ignorância e a sua incapacidade de ler de forma crítica os acontecimentos. Que bebe tudo o que a Globo e outros canais veiculam, mas não sabe dizer o que eles escondem, em quais abusos e corrupções estão metidos, e qual o jogo político que eles fazem. Que ignora e esquece os avanços que esse País obteve ao longo desses anos, em que pesem as deficiências administrativas. Preocupo-me ao perceber que estamos repetindo os mesmos erros do povo de Israel de 3.000 anos atrás que no deserto, mas livre do Faraó, sentia saudade das cebolas que acolá comia debaixo do chicote. E queria voltar para lá porque estava com medo de enfrentar o futuro incerto e quase arrependido da liberdade adquirida. É um momento delicado sim, mas o Brasil está saindo da crise como saiu em outras oportunidades, e isso assusta quem ao longo de séculos tratou o nosso povo do campo e da periferia como escravo, e vê a possibilidade de ser expulso da ‘casa grande’! Que não façamos como muitos escravos fizeram em 1889, um ano após o fim da escravidão formal, que voltaram às fazendas dos senhores, mas para permanecer nas senzalas, porque nas ruas passavam fome e não encontravam nem justiça e nem solidariedade. Faço um apelo como irmão e cidadão para que possamos permanecer unidos e solidários, em que pesem as nossas legítimas divergências políticas, e enfrentarmos com coragem e firmeza os pequenos e grandes abusos de autoridade e corrupção que se dão bem próximos de nós. Que Deus nos ajude!
Abraços fraterno,
Claudio

P.S,. Engraçado, justamente hoje dia 7 de março o ministro do STF Marcos Aurélio de Melo parece ter feito eco à carta aberta quando expressou preocupação não apenas com a “terrível” repercussão para a imagem do Brasil no mundo como também com o próprio Estado de direito: “Se ocorre com um ex-presidente da República algo tão extremado, imagina o que pode ocorrer com um cidadão comum”, alertou

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