Existem momentos na nossa vida em que quando o mundo se faz de surdo e se recusa a ouvir o nosso grito é preciso dar voz às pedras para que 'elas gritem' por nós, como nos lembra Abacuc. Existem circunstâncias na nossa vida em que temos que decidir de que lado estamos. Não dá para ficar eternamente no anonimato. Ou nos cômodos esconderijos do 'equilíbrio e da sensata ponderação'. Muitas vezes tal atitude manifesta somente o nosso egoísmo, a nossa covardia e o desejo de preservação. Já Jesus nos lembrava que quem quer salvar a sua vida vai perdê-la! O risco e a coragem fazem parte daquelas pessoas que querem emitir sinais de algo alternativo, e oferecer testemunhos significativos. Que querem fazer a diferença e dar sentido à sua vida. É o que Jesus tentou fazer. Inicia-se, com o Domingo de Ramos a semana que nos faz imergir na paixão, resistência, morte e vida ressurgida de Jesus e da humanidade. Um itinerário comum aos humanos, mesmo para aqueles que têm uma ‘morte natural’, e não violenta, como a de Jesus. Somos convidados a nos identificar e a nos indignar com a dor de Maria e das mulheres, diante do cinismo dos sumos sacerdotes, juízes corruptos do sinédrio de ontem e de hoje, e dos policiais federais romanos de ontem, e de hoje. Não podemos esquecer os crucificadores de ontem e de hoje. Não podemos inibir os nossos sentimentos de indignação e angústia que querem aflorar. Não podemos deixar de reconhecer que tudo o que produz sofrimento, dor, humilhação, injustiça é algo detestável e condenável, mesmo que isso possa parecer expressão de rancor, raiva, intolerância. Sentir tudo isso não significará que iremos reproduzir nos outros aquilo que detestamos e condenamos.
Sentir indignação não significa deixar-se vencer por sentimentos de vingança ou de agressão. A cegueira, o ódio e a indiferença do coração é que não podem tomar de conta da nossa alma nessa semana santa! Queremos, como Jesus, ter a coragem de tomar aquelas decisões que nos tornam 'homens e mulheres maduros na fé', que se expõem, e não fogem diante da perspectiva da cruz e da perseguição. Reconhecermos que o modelo a ser seguido não é aquele que o sinédrio ou o palácio de Pilatos e seus meios de comunicação querem nos impor, e sim, o testemunho de um mestre da Galileia que cavalga um....jumento e despreza os cavalos brancos dos generais de ontem e de hoje. Que é reconhecido pelo seu povo por ter servido, protegido e assistido os doentes e os excluídos de norte a sul. Que não tem medo de encarar seus algozes e que com o seu silêncio eloquente os desestabiliza. Que não perde a fé no Pai, mesmo quando 'Ele, o Pai' silencia escandalosamente, e parece não ouvir o grito de dor do seu filho amado. Que não usemos ideologicamente o símbolo da cruz para conformar os crucificados e sofredores, livrando, assim, os crucificadores de hoje de suas responsabilidades! Que não tenhamos medo de sentir a angústia do silêncio de Deus. É a nossa natural reação psicológica diante da nossa imensa vontade de viver.Que nunca possamos pensar que o Deus de Jesus Cristo nos abandonou mesmo quando 'perdemos a a nossa vida biológica'. O Deus de Jesus continua percorrendo conosco os calvários de hoje, e nos ajudando como tantos ignotos Cireneus a carregar a nossa pesada ou leve cruz de todos os dias! Uma santa semana a todos!
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