sábado, 19 de março de 2016

Quantos 'MOROS" surgirão quando tudo acabar? Por Tereza Cruvinel



Depois que tudo acabar, quantos Moros surgirão e o que farão eles na “democracia relativa” que está sendo permitida, numa reedição do eufemismo dos generais ditadores? A manifestação da tarde desta sexta-feira na Avenida Paulista ganhou outra premência e outro caráter nas últimas horas. Expressa a discordância de uma parte do povo brasileiro com as violações a estatutos da democracia em nome do “interesse público” quando o objetivo é indissimulável: viabilizar o afastamento da presidente Dilma, promover a aniquilação moral e política de Lula e encerrar o ciclo de governos que buscaram fazer um Brasil para todos, incluindo os que sempre alimentaram, como dizia Darcy Ribeiro, a “máquina de moer gente” para proveito de poucos. A marcha ganhou impulso nas últimas horas mas vem de longe. Vem de 2013. Na quarta-feira, reagindo à ultima cartada de Dilma, a nomeação de Lula para o Gabinete Civil, Sergio Moro tirou a toga e assumiu que era o lanceiro de uma cruzada política contra o Planalto e o PT. Antes que o caso de Lula passasse à alçada do STF, lançou seu último petardo. Sobram estilhaços para ele próprio, mas já foi transformado em herói, será poupado. Em nome do “interesse público”, divulgou ilegalmente grampos ilegalmente feitos, pois depois de sua própria ordem para que fosse cessado o monitoramento telefônico de Lula. Fez jorrar na mídia parte das gravações que, violando a lei, não se relacionam com a investigação, mas serviram à maior demonização de Lula e fez subir a febre dos exaltados. Qual é o “interesse público” em saber que na intimidade o ex-presidente fala palavrões e faz piadas sobre uma auxiliar por quem tem reconhecido afeto e respeito? Ele mesmo, Moro, resistiria a conversas que tem na intimidade sobre a Lava Jato sem saber que o escutam? Mas está feito e produziu os resultados esperados.  A manifestação de hoje vem depois da pirueta de Moro, do ensaio de guerra civil travado ontem na porta do Palácio,  durante a posse de Lula, da ocupação da Paulista pelos opositores, das  liminares que suspenderam a nomeação de Lula,  da instalação de uma comissão do impeachment liderada por aliados de Eduardo Cunha, da grita de organizações empresariais por uma solução para a crise politica. A manifestação de hoje dirá que não há consenso sobre a marcha em curso, que não há unanimidade em torno das violações do Estado de Direito para lhe abrir caminho, como disseram também os juristas que se reuniram em São Paulo para condenar a ranhura no Estado de Direito e defender a legalidade. Moro, com seus vazamentos, garantiu uma enorme vantagem política aos adversários de Lula-Dilma. O “interesse público” agora invocado por ele, é um corolário da “segurança nacional” em cujo nome a ditadura estuprava os direitos e a Constituição. As “exceções” permitidas agora contra Lula, denunciadas por ele na Carta Aberta de ontem, depois serão aplicadas a outros,  por juízes ou por guardas da esquina. (Fonte: Tereza Cruvinel - síntese do blogueiro)

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