Depois que tudo acabar, quantos Moros surgirão e o que farão eles na
“democracia relativa” que está sendo permitida, numa reedição do eufemismo dos
generais ditadores? A manifestação da tarde desta sexta-feira na Avenida
Paulista ganhou outra premência e outro caráter nas últimas horas. Expressa a
discordância de uma parte do povo brasileiro com as violações a estatutos da
democracia em nome do “interesse público” quando o objetivo é indissimulável:
viabilizar o afastamento da presidente Dilma, promover a aniquilação moral e
política de Lula e encerrar o ciclo de governos que buscaram fazer um Brasil
para todos, incluindo os que sempre alimentaram, como dizia Darcy Ribeiro, a
“máquina de moer gente” para proveito de poucos. A marcha
ganhou impulso nas últimas horas mas vem de longe. Vem de 2013. Na
quarta-feira, reagindo à ultima cartada de Dilma, a nomeação de Lula para o
Gabinete Civil, Sergio Moro tirou a toga e assumiu que era o lanceiro de uma
cruzada política contra o Planalto e o PT. Antes que o caso de Lula passasse à
alçada do STF, lançou seu último petardo. Sobram estilhaços para ele próprio,
mas já foi transformado em herói, será poupado. Em nome do “interesse público”,
divulgou ilegalmente grampos ilegalmente feitos, pois depois de sua própria
ordem para que fosse cessado o monitoramento telefônico de Lula. Fez jorrar na
mídia parte das gravações que, violando a lei, não se relacionam com a
investigação, mas serviram à maior demonização de Lula e fez subir a febre dos
exaltados. Qual é o “interesse público” em saber que na intimidade o
ex-presidente fala palavrões e faz piadas sobre uma auxiliar por quem tem
reconhecido afeto e respeito? Ele mesmo, Moro, resistiria a conversas que tem
na intimidade sobre a Lava Jato sem saber que o escutam? Mas está feito e
produziu os resultados esperados. A
manifestação de hoje vem depois da pirueta de Moro, do ensaio de guerra civil
travado ontem na porta do Palácio,
durante a posse de Lula, da ocupação da Paulista pelos opositores, das liminares que suspenderam a nomeação de
Lula, da instalação de uma comissão do
impeachment liderada por aliados de Eduardo Cunha, da grita de organizações
empresariais por uma solução para a crise politica. A manifestação de hoje dirá
que não há consenso sobre a marcha em curso, que não há unanimidade em torno
das violações do Estado de Direito para lhe abrir caminho, como disseram também
os juristas que se reuniram em São Paulo para condenar a ranhura no Estado de
Direito e defender a legalidade. Moro, com seus vazamentos, garantiu uma enorme
vantagem política aos adversários de Lula-Dilma. O “interesse público” agora
invocado por ele, é um corolário da “segurança nacional” em cujo nome a
ditadura estuprava os direitos e a Constituição. As “exceções” permitidas agora
contra Lula, denunciadas por ele na Carta Aberta de ontem, depois serão
aplicadas a outros, por juízes ou por
guardas da esquina. (Fonte: Tereza Cruvinel - síntese do blogueiro)
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